Pegadas deslizantes
Trocando passos apressados pela estrada ensolarada
No afã do reencontro
Sentindo o vento nos cabelos, a poeira nos olhos
Gotas de suor e ansiedade escorriam pela testa
Súbito, os passos outrora tão vulgares
Tão duros, tão pesados
Agora sentia leveza e maciez
Surpreendente suavidade logo abaixo de meus pés
Deslizava com a beleza de uma esbelta patinadora
A orla das calças apegava-se aos tornozelo, úmida
O solado grotesco dos calçados
Tão leve, escorregava como um perfumado sabonete
Que, por entre dedos femininos e delicados
Encontra fuga para sobre os azulejos
E patina ao encontro da liberdade
Minha odicéia, embora tão curta quanto a inspiração deste poema
Parecia infindável o deslize alucinante
De olhos fechados, peito aberto, intrépido
Depois de um metro fui ao chão estatelado
O deslize, tão fascinante, tão suave
Não era epifania que senti no coração desejante
Apesar de me sentir penetrando o mar celeste
Pisei na bosta e penetrei as costelas na calçada