Admirável Mundo Novo
Internet, esse “admirável mundo novo”, que tanto me encanta como assusta, tem me feito pensar muito ultimamente.
Essa ferramenta que ao mesmo tempo encurta distância, aproxima pessoas, coloca em evidência anônimos e concede fama a pessoas com e sem talento, é também capaz de causar muita inconveniência.
Eu poderia citar uma lista interminável de exemplos de dificuldades provocados pela internet, mas um exemplo em especial tem me tirado o sono: Como sobreviver ao 1º Encontro com alguém que você conheceu pela internet?
Convenhamos, você conhece um cara na rua, no barzinho, no metrô ou faculdade e o cara se interessa por você é porque no mínimo ele avaliou o “conjunto da obra” e gostou do resultado, a partir de agora terão que descobrir se existe compatibilidade de idéias, se há interesse em comum e se rola alguma química.
Agora acontece exatamente o contrário quando esse encontro se dá no mundo virtual.
Vocês descobrem diferenças, semelhanças, afinidades. Você sabe que o cara é inteligente, gentil, bem humorado e quando a conversa flui para o campo intimo e vocês se descobrem totalmente em sintonia e a conversa os deixa sem fôlego, e tudo o que querem é correr para quarto mais próximo e se entregarem por completo e sem reserva. Uau!
É exatamente aqui que se encontra o meu dilema.
Pois esse primeiro encontro é cercado de expectativas e você o fez acreditar que irá encontrar uma representante do mundo fashion, uma parceira de passarela da Gisele Bundchen, afinal você mandou todas aquelas fotos em que você aparece “perfeita”.
Agora, como explicar que já faz alguns anos que você deixou a adolescência (não mais de 20 ou 30), e por isso você não tem mais aquele corpinho durinho, aquela barriga de tanquinho e os seios da Vênus de Milo?
Que por culpa do McDonald's, do Giraffas e Spoleto, você está alguns quilos acima do peso ideal, mas que nem são tantos assim, afinal nem chega a 10 quilos?
Como explicar que devido ao excesso de leitura em metrô, ônibus, trem, lotação e em parte devido ao seu estado de Balzaquiana, você foi abrigada a usar óculos de grau?
Eu sei, é difícil de acreditar que uma pessoa tão jovem e tão linda precise usar óculos de grau, e que provavelmente se trata de um erro médico, mas enquanto não se chega a um consenso e sendo que essa é única forma de conseguir ler, em especial os itinerários dos ônibus é melhor continuar com os óculos.
Enfim, como confessar que todas as fotos que você enviou a ele são o resultado de uma seleção criteriosa, após rígida análise de mais de 1001 fotos (graças a Deus inventaram a câmera digital), todas tiradas por você mesma, e é claro em nenhuma delas você aparece usando óculos?
Como explicar que você é sim muito inteligente, mas devido ao excesso de juventude (você não é velha, só é jovem por mais tempo), às vezes se confunde e se atrapalha, afinal com o passar do tempo alguns órgãos se atrofiam? (O cérebro é considerado um órgão, não né?).
Por fim, como explicar que você é uma ótima pessoa, é também gentil, bem humorada, mas tem uma TPM capaz de acabar com um casamento?
E aqui chegamos à pergunta que não quer calar: Conto tudo isso a ele e acabo com os sonhos e expectativas do rapaz? Ou omito a verdade e o deixo descobrir todas essas “pequeninas imperfeições” por conta própria?
Como os alertava Aldous Huxley:
“Sejamos todos bem vindos ao progresso, ou, a esse admirável mundo novo!!!”