Negócios de deus

Baita sacanagem crucificarem J.C. foi um exagero imperdoável.

Mas vendo por outro lado o cara vem, desce e diz "Que tal se a gente fosse legal uns com os outros pra variar?" Pô! A gente queria mais truques, pirotecnia, um terno de camursa roxa e cobertura televisiva. A gente queria que ele viesse de óculos escuros e fizesse justiça no melhor estilo "Terminator", que viesse pra terra e exibisse um baita rifle divino e saisse dizendo "Olhem meu rifle e pensem bem antes de fazerem travessuras, estou voltando pro céu e você é bem visível lá de cima".

Ele podia ter explorado melhor, podia ter feito uma pesquisa de mercado e elaborado uma estratégia de marketing, se botasse a sua descida em uma planilha os erros seriam facilmente identificáveis. Esperávamos obviamente por umas camisetas de brinde e uns bonés, luvas com número "1", desejávamos que ele erguesse as mãos para o céu e dissesse "Vamos lá! Ooooooolaaa!", mas nada disso aconteceu, foi uma grande invertida.

O cara desceu disse lá o que tinha que dizer numa linguagem pra lá de rebuscada (não sei como os pobres pescadores entendiam o pretérito), fez uns truques legais que deve ter deixado toda a galera com cara de "quero mais" e só. Deu pra fazer o que? Quase nada.

Aí o jogo virou bruscamente, tudo por causa de um bom planejamento empresarial.

Primeiro aconteceu o lançamento do livro, bastante chato e mentiroso pra dizer a verdade. Como era inédito no mercado vendeu que nem coca-cola, todas as camadas sociais se tornaram o público-alvo direto e dá-lhe vendas e mais vendas. De tempos em tempos, pra manter o clima místico de renovação do livro, acrescentavam-se coisas, retiravam-se outras, inventavam algumas besteiras a mais a ponto do cara ficar indiferenciável, por definição, de um inca venusiano metido a Copperfield. E mesmo assim o livro continuou saindo das prateleiras aos borbotões.

Depois vieram os clubes de leitura que aceitavam doações, a publicidade foi feita de um modo que os doadores acreditavam que doando R$ 10,00 , R$ 5,00 chegaria direto na mão de deus. Isso compõe até hoje o principal foco da empresa.

Hoje a empresa tem um share-of-market de aproximadamente 20% (o que é uma grande coisa), como o produto é de patente pública não dá pra eliminar a concorrência que só tem aumentado.

Mais seguimos firmes na nossa fé.