Meu avô Zeca Bem e a Mulata
O tio Léo Tangerino ficou viúvo e deu para o “Zeca Bem” seu pai um papagaio, ou melhor, uma fêmea por nome de “Mulata”. A razão do nome eu não entendi, isto porque a espécie de aves conhecida popularmente por “papagaio” é uma mistura de cores, nada haver com o nome, enfim cada um coloca o nome que quiser no seu animal de estimação.
A mulata doada ao “Zeca Bem” pertenceu ao Senhor Felix, seu sogro, que era carioca da gema, e gostava muito das músicas da sua época, fato que ensinou a mulata cantar um pequeno trecho da música: “O teu cabelo não nega mulata”. Quem sabe essa música poder ser a explicação do nome dela, da papagaia.
O Zeca Bem, meu avô era muito engraçado, contava histórias, cantava um repente caboclo, batia palmas e sapeatava. Tendo em casa a mulata, resolveu cantarolar com objetivo de que a mulata aprendesse a sua canção, repente - embolada.
Isso ele fez por muito tempo, e nada da mulata aprender o que ele queria. Comentou comigo que já estava perdendo a paciência, afinal não entendia a razão da mulata não assimilar. Eu disse para o meu avô Zeca Bem. Ela já está com certa idade, meia véinha, vai ser difícil ela aprender essa embolada cabocla. Ele não se conformava e vivia insistindo, e vai ele cantarolando.
Quebra o pau
I
Já vi água virá gelo
Vi bananeira dar banana
Vi você c’o Zé aberto
Perto da casa da Sinhá Ana.
II
Você não sabe nada
Não sabe o que está falando
A chuva corre de pé
Você num sapo está virando.
III
Quero dizer mais uma vez
Que vi bananeira dar banana
Você está pior que eu
Está igual à sinhá baiana.
IV
Estou igual a sinhá baiana
E você está pior que ela
Eu já disse trinta vezes
Que sua cara é de cadela.
V
Um dia eu vi você
Com a namorada andando
Quando chegaram ao escurinho
Agarraram se beijando.
VI
Você me viu fazendo isso
No escurinho se beijando
Lá no banco do jardim
Vi você se apertando.
VII
Vamos mudar de assunto
Que a coisa está piorando
Vamos falar de coisa séria
Que o pau está quebrando.
VIII
Já vi bambu sem nó
Vi o poleiro na galinha
Isso é pura verdade
Pergunta pra velha Aninha.
IX
Eu já vi coisa importante
Vi o homem na canoa
Ele estava c’o anzol no pé
Mais que coisinha atoa.
X
Não sei mais desafiar
Você está pior que eu
Vi você comendo minhoca
Lá na casa do Abreu.
XI
Combater é muito feio
Vamos parar meu pessoal
Nós somos todos amigos
Aqui desse arraial.
Após cantarolar tudo isso, eu disse para o meu avô “Zeca Bem”, coitada da mulata, isso pra ela é uma tortura. O que fez ele. Chegou bem próximo do poleiro e botou o dedo indicador na cabeça dela, resultado levou uma bicada no meio do dedo que quase fica sem ele. A partir desse dia parou de infernizar a coitada da mulata.