Como é que eu ia saber?

- Ela tinha tudo em cima, sabe? Aliás, na frente e atrás também... Cara, que mulher. E eu só na moita, quando de repente veio aquele cachorrão correndo, correndo... e, antes que ele pulasse em cima da moça, entrei na frente e, pá! Dei um chute no cão que ele foi parar na esquina. Quando ouvi o grito e me virei, levei uma bolacha federal. Cara, como é que eu ia saber que aquele era o cachorro dela?

“Depois foi a velhinha. Ela estava andando na rua e de repente deixou cair um pacote da bolsa, eu peguei e fui atrás. Pacote compacto, pesado... Minha boa ação do dia, saca? Então, chamava a velhinha, mas ela não me ouvia, achei que a pobre era surda. Mas era rápida, a danada, ia cada vez mais depressa. Depois de quase três quarteirões correndo atrás, consegui abordar a mulher; e, quando ia lhe entregar o pacote, chegaram os policiais juntos e gritaram, É ELA! Cara, como é que eu ia saber que a velhinha era traficante e queria se livrar da muamba?”

“Uma semana depois, foi o meu colega de trabalho, o Hamilton. Cheguei na copa para um café e tinha um bolo com velinhas; eu perguntei pra Carmen, quem é que faz aniversário? E ela me disse, é o Hamilton, mas olha... e eu nem parei pra ouvir, saí correndo pra dar os parabéns pra ele, afinal era o Hamilton, caramba! Abracei, desejei muitas felicidades, falei pra ele do bolo, das velinhas... e o pessoal virando a cara pra mim, irado comigo... Cara, como é que eu ia saber que era pra ser uma festa surpresa?”

“Mas o pior de tudo foi a festa de 5 anos do Julinho. Sou o único tio, sabe, é bom fazer alguma coisa divertida, criança gosta... então, botei minha roupa de palhaço, me pintei todo e lá fui eu, maior dificuldade pra andar com aquele sapatão. Assim que cheguei e corri pra pegar o guri no colo, ele abriu o berreiro... eu querendo consolar o menino, indo atrás dele, e ele fugindo e chorando... Cara, como é que eu ia saber que o moleque morre de medo de palhaço?”

“Então, cara, parece que nada que eu faço dá certo... e eu só queria acertar, entende? Queria me aproximar das pessoas, mas parece uma sina, toda vez que eu tento fazer alguma coisa, parece que dá tudo errado, então eu... ah... o que? Ah, é? Mas você atendeu o celular e... sim, eu entendo... é, fica caro sim... tudo bem... mas, cara, como é que eu ia saber que você não está no Brasil??”

Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Só Queria Acertar.

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