O SHOW DE MARIONETES
J.B.Xavier

O show de marionetes vai de vento em popa. No palco, milhões de bonecos dançam e saracoteiam loucamente atados a fios que sobem até as mãos de Lulla, o maior fabricante, incentivador e manipulador de fantoches que o Brasil já conheceu.

Na platéia está o resto do mundo, vibrando muito com as peripécias que seus bonecos executam, sob sua hábil manipulação.

Na primeira fila estão os países que ainda sonham o sonho comunista, com Phidel, Xaves e Kim Kong, da Coréia, ensandecidos aplaudindo de pé.

Logo atrás destes estão alguns países africanos e médio-orientais, com sonhos totalitários mas sem a habilidade do manipulador-mor, e portanto sem o apoio dos bonecos que este demonstra à platéia hipnotizada.

Nas cadeiras do centro do auditório estão os emergentes que assistem a tudo com um encantamento que vem da esperança de um dia possuírem tal habilidade de manipulação, sem contar com o dinheiro do Estado. Tarefa difícil, admitem. Resta, pensam, a esperança de, assistindo ao show, aprenderem como gastar desbragadamente o dinheiro público e ainda assim alcançar índices de popularidade batendo em 80% de aprovação.

Nas últimas filas estão os sisudos mandatários do mundo, China, Rússia, Japão, Alemanha, Estados Unidos etc., estes últimos torcendo o nariz para a alegria do país das marionetes, e mantendo a mão no coldre para um saque rápido e sumário fuzilamento de todos os presentes, se necessário. Mas todos enfim, pasmos com os suaves movimentos dos bonecos manipulados, sinal evidente da habilidade do manipulador.

O encantamento é ainda maior quando Constatam que além de manipulador de fantoches, Lulla é também um habilíssimo ventríloquo.

Através da boca articulada dos fantoches, eles ouvem os discursos do manipulador, em todas as versões que a classe social dos fantoches pertence: Vêem banqueiros, catedráticos, motoristas, astronautas, domésticas, professores, trabalhadores de todas as áreas, estudantes, políticos, religiosos, militares, etc. aprovando incondicionalmente seu manipulador.

“Como ele conseguiu isso sem a ajuda da Rússia?” - pensa Phidel e Xaves, na primeira fila, com os olhos brilhantes.

“Ora, com as FARC – Frente de Arrecadação Rasteira e Compulsória - até eu!” pensa Kim Kong, irritado por não ter pensado nisso antes.

“Como ele consegue isso sem burlar a Constituição” Pensa o pessoal do centro, enquanto escrevem uma proposta de reforma de suas respectivas Cartas-Magnas.

“Como ele consegue isso sem homens-bomba?” Pensam os do Oriente Médio, afrouxando o colete estufado de dinamite.

“Não sei manipular como ele, mas tenho uma mulher que ele nunca terá!” pensa a França, sem esconder a frustração, por ter sido ultrapassada no quesito ‘demagogia’.

“Como ele consegue isso sem que o Estado ainda não tenha lhe dado um tiro na nuca?” pensa a China.

“A quais máfias terá se unido esse cara? Pensa a Rússia visivelmente incomodada.

“Como ele consegue isso sem o apoio da Yakuza? pensa o Japão, intrigado.

“Como ele consegue isso sem um professor como Hitler? pensa a Alemanha, num misto de surpresa e curiosidade.

“Como é que Hollywood ainda não o descobriu?” Pensa os Estados Unidos, acariciando o coldre.

As luzes multicoloridas em movimentos vertiginosos e aleatórios, dão ao show o aspecto pirotécnico necessário para que cause a impressão de dinâmica alucinante.

Estrategicamente colocados a um canto mal iluminado do palco, os mais atentos podem notar uma pequena reunião de bonecos que discutem entre si e se agridem sem uma razão muito clara. Volta e meia surge sobre esse grupo de fantoches uma luz azul projetada com a palavra “Oposição”.

Mas o que fica claro, no entanto, é a falta de habilidade do manipulador desses fantoches. Quem quer que os esteja manipulando é um inábil completo. Os bonecos não possuem coordenação de movimentos, seus passos e gestos são titubeantes e sua fala é desarticulada.

Eles falam de uma maneira e num idioma que não pode ser entendido por ninguém, nem por eles mesmos. Misturam argumentos confusos e contraditórios, demonstram vacilações, discutem distribuição de cargos, alegam honestidade, alguns são presos por corrupção, mas logo são soltos, para descrédito geral de todos, exibem diplomas, longas carreiras políticas, mas ao final ninguém se entende.

Enquanto isso, Lula capricha na manipulação de alguns bonecos especiais. O boneco Sarneynto, por exemplo, saltita loucamente e ri à toa, externando toda a gratidão ao manipulador por ter sido admitido no seleto grupo da trupe.

Ao redor dos fantoches manipulados há um punhado de outros bonecos, de todas as classes sociais, sentados, observando o show e esperando ansiosamente serem admitidos nele.

Finalmente se aproxima o “Grand Finale” que todos esperavam, por ter sido amplamente anunciado, mas que ninguém tinha a menor idéia de como seria...

Então repentinamente as luzes param sua movimentação e a música frenética se transforma num cântico monumental, quase religioso, muito parecido com o “Vá Pensiero”, de Verdi, para delírio da Itália.

Uma aura sagrada paira sobre o ambiente, e então do teto começa a descer, entre muita fumaça de gelo seco, a figura messiânica de Lulla, tendo duas enormes asas lhe saindo das costas, enquanto os fantoches abrem espaço para o Messias.

Lulla chegou ao solo e imediatamente empurrou os fantoches da Oposição para trás da cortina, tirando-os de cena. Logo em seguida subiu novamente onde ficou a pairar a alguns centímetros do piso, abanando condescendentemente para a platéia com um olhar esgazeado e ausente.

Um fio de baba escorre do canto da boca e começa a se acumular numa poça, no chão. Imediatamente ouve-se uma voz no sistema de som, visivelmente preocupada.

“Não acendam fósforos ou isqueiro, por favor!!

Lulla fica flutuando por alguns momentos enquanto a platéia se perguntava se o Grand Finale seria apenas aquilo.

Então, para espanto geral uma chuva de pétalas de rosas brancas cai do teto sobre o Messias enquanto ele vai rapidamente se transformando numa mulher de feições duras, sorriso congelado como o dos peixes de geladeira, olhar de urso polar, e com a aparência das estátuas do museu de cera de Madame Tussauds.

Diante do espanto geral, Lulla desapareceu, e sua voz voltou a ser ouvida, enquanto os cordéis do Fantoche Vilma Misquece, o mascote de Lulla, se movimentavam e a faziam dançar no ritmo frenético do frevo nordestino em que a música se transformou.

Ao seu redor dançavam alucinadamente todos os demais fantoches, inclusive alguns da “Oposição, obedecendo humildemente os movimentos impostos por seu manipulador”

E todos caíram na folia, com exceção dos Estados Unidos, que preferiu ficar em seu lugar observando tudo, e acariciando o botão vermelho de suas ogivas ao redor do mundo, em seu coldre.

Olhando para o espetáculo dantesco ele apenas grunhiu:

Não mataram a cobra no ninho... Vai sobrar para mim...

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JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 09/03/2010
Reeditado em 03/07/2014
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