PERDENDO A PINTA!
Ele acabara de chegar a São Paulo vindo duma cidadezinha do sertão do nordeste aonde embarcara num ônibus há exatamente trinta e seis horas atrás do momento em que chegava no balcão de atendimento daquele hospital público. Sua primeira parada fora lá, aparentemente sem lenço e sem documento.
Vinha com aquela postura um tanto retraída, meio assustado com a enormidade e com a confusão da cidade grande e mostrava ao recepcionista do hospital um papelzinho com um número de telefone.
Logo que foi atendido contava uma história pra lá de inusitada:
-Óia moço, eu precisava duma ajuda,quero que ocê ligue pra rádio da minha cidade, aqui tá o número, para que avise o hospitar de lá de que perdi a pinta da Raimunda num desastre.
Uns segundos de olhar interrogativo do atendimento, algumas perguntas do recepcionista e ele completava a explicação:
-É que o doutô tirô a pinta da Raimunda minha mulé e me mandô pra cá por causa duma tar de "biopsi", coisa que num tem lá na minha terra não senhô. Precisava saber que pinta é essa da Raimunda.
O Dotô ficou cismado, então botô a tar da pinta no formó dum vidro, pra mode eu trazer pra cá com o tar do pedido do exame, taqui ele ó, e daí eu sofri um desastre na estrada, e o vidro da pinta da minha mulé se quebrô.
Então a rádio tem de avisar o hospitar que eu tô aqui em Sun Paulo sem a pinta da Raimunda minha mulé, só tô com o pedido do exame do dotô, pra modi eu saber o que faço agora.
E se a tar da pinta for coisa ruim?
Nota: É verídico, eu juro. Nome fictício.