A FILA.
A FILA.
Na frente à ruivinha magrinha miudinha com a criança no colo e espiando o marmanjão montado na bicicleta no outro lado da rua.
O rapazote, rosto cheio de espinhas, nervoso, esfregando as mãos. Disse:
- Se o pai sabe que eu tou nessa fila...
O senhor cabelos brancos envergonhado, olhando pra parede. Olhou pro rapazote e contou:
- I eu? Vou tê que voltar a trabalhar...
Cara de sono, barba por fazer, vestindo a camisa rubro-negra do Brasil de Pelotas, bota a mão no bolso coça o saco, tira a mão do bolso, olha pra um lado, pro outro, bota mão no bolso coça o saco:
- I eu o idiota apaixonado... Não dormia pensando nela... Levava chocolate; chocolatinho pra... Levava flor; rosas!...
O mulato alto, bermudas, chinelo de dedos, comentou:
- Já vim aqui três vezes... Sempre deu positivo... Não to nem ai...
O rapaz que tava atrás dele disse:
- No meu caso é ela que pegou três... Eu sou o quarto... Ela fez disso um meio de vida... O meu vai dá positivo, mas eu já tou me mandando... Sabe o Acre?
Botas bombachas e chapéu de abas largas, logo atrás a mulher gordinha com o filho no colo mais a mãe dela e duas tias. Ele jogou o chapéu pra trás, bateu com a sola da bota:
- Só vim eu... Tem que vir toda a vila... Ela é uma baita trepadeira...
A mãe dela reclamou:
- Ainda é safado... Mandá meus filhos te inche de porradas...
A gordinha bateu pé:
- Mãnheee, fica na tua...
O enfermeiro chegou tirou um molhe de chaves do bolso... Olhou a fila, com ar de gozação avisou:
- Pessoal, como eu sou da área eu tenho que avisar... A organização Mundial de Saúde alerta para o uso da camisinha.
Enfiou a chave na fechadura e deu outro aviso:
- Só entra quem vai colher material pro “DNA”... Só o TIME DO DNA...
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