BRANCO PEROLADO
O Joãozinho andava apertado no colégio. Entrou professora nova de português e, achando o nível da turma muito baixo, resolveu apertar os parafusos, exigindo mais da classe no estudo da gramática e arrochando nos exercícios. Era dever de casa que não acabava mais.
Um dia cismou de reforçar o estudo dos adjetivos e marcou teste para a aula seguinte, valendo nota:-
“- Prestem atenção! Quero que cada um de vocês me traga o nome de uma cor, seguido por um qualificativo. Exemplo:- azul celeste, vermelho sangue, etc. . Entenderam? Estão dispensados.”
Joãozinho foi para casa encabulado. Pela primeira vez no colégio demonstrava preocupação com alguma coisa. Queria a todo custo impressionar a professora novata. Mas sua cabeça não atinava com uma cor diferente, pouco comum. Azul celeste, vermelho sangue, tudo isso era muito batido. Queria algo que provocasse impacto!
Pediu ajuda ao seu pai e este, de pronto, sugeriu:- “- Branco perolado!” Sim senhor, por que não? Branco perolado era raríssimo. O João adorou!
Na manhã seguinte ele partiu confiante para a escola. Seus colegas admiravam seu entusiasmo, coisa rara até então.Via de regra, Joãozinho era desinteressado. Só pensava em zoar com os outros, em brincadeiras de mau gosto. Mas a nova mestra de português mexera com ele, era notório.
A classe estava completa quando a professora adentrou a sala, sobraçando um grosso dicionário e alguns cadernos.
“- Muito bom dia, meninos! Vamos à chamada.”
Feito isso, a professora começou a pedir a cada aluno, de forma aleatória, o nome da côr escolhida, anotando as respostas:-
“- Pedrinho?”
“- Verde garapa, fessora!”
“- Muito bem. Agora você, Joselito.”- E assim por diante.
De repente, chamou um amigo do Joãozinho, um negrinho esperto apelidado de “Tsiu”. E ele, rapidinho:-
“- Branco perolado, fessora!”
“- Bom, muito bom. Agora você, Joãozinho!”, continuou a mestra.
E o João, nervoso, trincando os dentes e fuzilando o “Tsiu” com olhos de fogo:-
“- Preto filho-da-puta!...”
-o-o-o-o-o-
B.Hte.,18/03/05