O aleijadinho e o fanhoso
Baseada na piada do título que circula na Internet e que eu já contei mais de um milhão de vezes para os meus amigos!
 
 
Numa cidadezinha pacata do interior de Minas Gerais viviam dois amigos inseparáveis desde a mais tenra idade.
Um deles tivera paralisia infantil e outro nascera tão fanhoso o pobrezinho que quase não se podia entender o que dizia. Eram conhecidos assim: o aleijado e o fanhoso, ninguém os tratava pelo nome.
Cresceram e já adolescentes, se encontravam todos os dias na praça principal da cidade para passearem por horas a fio. E dadas as suas limitações não haviam muitas possibilidades de divertimento a não ser andar sem rumo.
O fanhoso até gostava de brincar de pega-pega, mas o aleijado de muletas não conseguia pegá-lo nunca, então a diversão não ia para frente. Em contra-partida, o aleijado gostava muito de conversar, mas a fala do fanhoso era arrastada e daí também não saia um lazer apropriado. Mas mesmo com suas diferenças sabiam apreciar as qualidades um do outro.
Em certa época eis que um grande circo se instalou na cidade e dentro deste local havia um curandeiro que no seu cartaz de propaganda dizia que ele podia realizar feitos mirabolantes, inclusive conseguia fazer cego andar e surdo ver! Olha o naipe do malandro...
Apesar de não acreditarem muito em coisas sobrenaturais, os dois amigos viram nesse curandeiro uma maneira de serem “consertados” e com isso poderem aproveitar mais a vida.
O fanhoso, coitado, dias antes tentou passar a lábia numa prendada e levou um pitaco na orelha sem dó da donzela. Quando tentou explicar para o aleijado o que aconteceu, este nem entendeu direito.
-- Me conta o que você falou para ela!
-- Eo faei que ea ea inda! Ua maavia! E ea sotou a ão em im!
-- Escreve aqui!
Nisso o aleijado deu um papel e um lápis para o amigo e depois leu o que ele escreveu em voz alta.
-- Eu falei que ela era linda! Uma maravilha! E ela soltou a mão em mim! – É – disse o aleijado – Da próxima vez tenta escrever!
O aleijado também não tinha sorte com as garotas, mas no seu caso não era falta de um bom papo, mas por se sentir inferiorizado mesmo pela deficiência, não queria ser carregado no colo ao se casar com alguém.
Sendo assim na inauguração do circo, lá foram os dois para a entrada e depois direto para a tenda do curandeiro.
Lá uma multidão já enchia o espaço e tiveram que se acotovelar para chegar até o centro do lugar. Alguns notaram a presença dos dois e foram dando passagem e gritando.
-- Vamos ver se ele é o bom mesmo! Olha aqui dois que precisam de sua ajuda!
O curandeiro que acabara de chegar e estava ainda fazendo um aquecimento, tirando a dor de cabeça de uma senhora, fez um gesto chamando os dois amigos.
-- Minha gente dessa bela cidade de... como é mesmo – cochichou para o seu assistente em voz baixa – Ah, minha bela cidade de Condunepolis! Hoje vou fazer uma cura dupla, uma coisa muito difícil de fazer e de acontecer mesmo! Se apresentem vocês dois por favor!
-- Eu sou o aleijadinho!
-- E eo ô o fahoso!
-- Muito bem, senhoras e senhores, temos um aleijado e um fanhoso! Vou começar pelo caso mais grave!
E dizendo isso começou uma oração alta e incompreensível, colocando a mão sobre a cabeça do aleijado. Depois foi para a cabeça do fanhoso e assim ficou por um tempo, com a oração ininterrupta sendo proferida, com os olhos fechados.
Em dado momento soltou um berro assustando a todos.
-- Fechem os olhos, todos, menos vocês dois, para ajudar na concentração! – disse ele sem abrir os olhos e apontando um braço na direção dos dois amigos -- Estou sentido alguma coisa aqui!
-- Sou eu! -- Disse o seu assistente -- O senhor tropeçou em mim!
-- Ah, cala a boca!
Depois de um tempo se afastou dos dois com os olhos fechados e os braços levantados. A multidão estava calada, nem cochichos se ouviam. Uma tensão muito grande tomava conta do lugar.
Ao estar numa distância segura deu um berro.
-- Aleijado jogue uma muleta!
O aleijado mandou a muleta para o ar quase acertando um desavisado.
-- Aleijado jogue a outra muleta! – gritou novamente o curandeiro ainda permanecendo com os olhos fechados.
O aleijado atirou longe a outra.
Por fim o curandeiro abaixou os braços e fez força comprimindo as mãos e soltou mais um berro que encobriu um pum lascado de forte.
-- Fanhoso fale!
-- O aeijainho aiu!
 
 
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JGCosta
Enviado por JGCosta em 08/02/2010
Reeditado em 09/02/2010
Código do texto: T2076255