NOCAUTEADO PELO ENDIABRADO
O dia no ambulatório daquele hospital mal começara, porém o pediatra nitidamente já demosntrava sinais de nocaute.
Às vezes eu passava por lá e tentava facilitar a situação, levava um suco até a sua sala, ligava o ar condicionado, contava a piada do dia, posto que o calor, somado às estripulias das crianças, fervilhava os miolos daquele doutor.
Eu sinceramente não sei o que há com as crianças de hoje em dia, e com suas mães então, nem se fala!
E foi justamente aquele garoto endiabrado que me rendeu o presente texto.
Entrou na sala, no auge dos seus cinco anos, já com a boca aberta e a língua de fora.
Enquanto a mãe tentava explicar os sintomas, ele num salto subiu no aparador do médico e derrubou todas as espátulas -abaixadores de língua.
-Dói a minha garganta, viu, ô médico!
Mas o pediatra fingiu que não era com ele, e continuou a perguntar.
Foi assim que o garôto por uns instantes desapareceu do cenário e foi encontrado debaixo da mesa do doutor, carimbando o seu tapete persa : "Ah, não é de bichinho, manhê!" reclamou o menino.
"Me dá meu carimbo aqui, vamos menino" resmungou o médico.
"Dá pra ele filhinho, é dele meu bem!" tentou a mãe.
Como não obtiveram sucesso, o doutor puxou o carimbo e o menino abriu o berreiro e se pôs a estrebuchar pelo chão.
Nada o fazia parar. tampouco a cara feia do médico que, aliás, o fazia gritar mais alto ainda!
O médico então aproveitou para olhar a garganta, quando o menino mordeu a espátula, que quebrada, se dividiu entre a boca do moleque e a mão do médico.
"Cospe a espátula, filhinho, não vai engulí-la meu anjo!"- tentava calmamente a mãe.
Num relance o médico conseguiu retirá-la e o menino pulou da maca para o colo da mãe.
"Amigdalite purulenta, mãe, os remédios são esses..."
Enquanto falava, o menino pegou o ponteagudo saca-grampos da mesa e começou a riscá-la...a mesa de estimação do doutor.
A mãe nem viu!
Num salto e descontrolado, o médico se defendeu " que inferno,me dá isso aqui que você vai riscar a minha mesa!
Foi só retirar a arma e o moleque abriu mais um berreiro e quase se afogou nas secreções.
"Quero meu carrinho,quero meu carrinho" dizia aos berros sacudindo a bolsa da mãe !
"Toma querido, pode brincar!" disse a mãe advertindo o médico "isso pode né doutor, as rodinhas dele são de borracha"
E o moleque não teve dúvida: transformou a mesa do médico numa pista de fórmula um! Tudo foi ao chão: receituário, carimbo, estetoscópio, tudo mesa abaixo! VRUUUM, VRUUUM! dizia ele esparramando saliva para todos os lados..."sai da frente, ô médico!"
O médico então se levantou e esticou as mãos: ,"Adeus, senhora!"
"Ah, qualquer coisa eu ligo, tá doutor?' e finalmente se foram, a mãe e seu filhote endiabrado.
No primeiro toque do seu celular, cinco minutos depois da consulta, o doutor se desesperou e me chamou:
'É ela, não pode ser...dona Maria, por favor, o meu copo de água com açúcar...e o meu remedinho pro coração, estou passando mal".
baseado em fato mais que verídico, infelizmente.