QUEM QUER QUEIJO
Era um almoço chique na casa do Dr. José Prudêncio, todos estavam bem trajados e as crianças arrumadas e limpas como se fossem bibelôs.
Laura, esposa do Dr. José, gostava sempre de mostrar a sua classe para todos, e preparava tudo nos mínimos detalhes. Geralmente, não gostava de crianças junto com os adultos, porém naquele dia, para mostrar a visita como eles eram uma família unida, resolveu colocar todos os seis filhos na mesa para comerem.
Ela havia treinado as crianças por mais de uma semana para se comportarem como ladies e gentlemens.
José Prudêncio era homem sério e antiquado, não gostava de bagunça e nem de crianças conversando. Sempre dizia, que quando adulto fala, criança fica calada.
A sua convidada especial era a Dona Joaquina Torrenova, uma alta socialite cheia de nove horas e que só faltava não pisar no chão.
Maria das Graças, a filha de 10 anos, era uma menina super ativa. E vê todo aquele marasmo na mesa, a incomodava bastante. Ela prestava atenção em tudo e em todos ao redor, mas, as conversas eram frases perdidas e curtas, sem nenhuma importância.
Achando que poderia tornar o almoço mais interessante, ela resolveu falar. E com a voz em tom alto e apressada, ela disse: - Eu sei uma história muito engraçada que aconteceu com o meu pai!
Aquela voz estridente no meio de tanta calmaria, chamou atenção e todos olharam para ela sem muito interesse, por ser uma criança.
Porém, sem dar nenhuma chance de alguém se manifestar, ela continuou:
- O meu pai disse que foi fazer uma visita na casa da Dona Quininha, uma mulher muito chique, mas, super mão-de-vaca, e a mesma entrou na sala junto com uma empregada que carregava um belo queijo e falou: Alguém quer queijo? Ninguém quer queijo! Guarda o queijo! sem deixar que ninguém se quer abrisse a boca.
Maria da Graças começou a rir sem parar, enquanto os outros convidados se entreolhavam e o seu pai ficava vermelho de vergonha pelo fato de lembrar que a mulher da história era a sua mesma convidada, a Dona Joaquina Torrenova.
Os rostos de pavor, vergonha e admiração brotaram entre os adultos da mesa que ficaram sem palavras.