As aparências enganam... meeesmo! - III

Essa aconteceu com dois colegas de faculdade, que me contaram o causo e me autorizaram a escrever aqui.

A festa na universidade estava animada -- música da melhor qualidade, bebida farta e uma moçada bonita e alegre.

Lá pelas tantas, vendo que já havia ultrapassado um bocadinhozão a sua cota de aditivos, a garota olhou em volta e constatou que os amigos que lhe dariam carona na volta estavam no auge da animação e embalo. "Tão cedo eles não vão embora... melhor arrumar outra carona", ela pensou.

Foi então que avistou outro dos seus amigos se preparando pra sair. Contou pra ele o seu pequeno drama e ele, compreensivo e um tanto movido a segundas intenções, disse que tinha pouca gasolina no carro e, como morava perto dali, só dava pra ir até em casa. Mas... se ela quisesse, poderia ir dormir na casa dele.

Ela sabia que ele morava numa república estudantil e até já havia ido lá várias vezes. Sendo colegas veteranos e companheiros de muitas baladas, ela topou.

Lá chegando, ele avisou que teriam que dormir na mesma cama, já que os outros lugares seriam ocupados pela rapaziada que chegaria mais tarde. Como já haviam acampado inúmeras vezes e até dividido barracas -- rapazes e moças todos juntos --, ela novamente topou, sem malícia alguma.

Despiu apenas os jeans e deitou-se. Ele ficou só de cuecas e deitou-se em seguida.

E logo veio se chegando, com cautelosas mas determinadas mãos nada bobas, dando bitoquinhas no cangote dela.

Ela, então, virou-se pra ele e disse com suave firmeza:

-- Ah, rapaz, pára com isso... sinto muito, tô a fim não, 'bora dormir sossegadinhos, tá?... -- e em seguida virou-se pro outro lado, bocejando, já quase dormindo.

Mas, quando ia mergulhando no sono, ouviu atrás de si uns soluços abafados.

Sentou-se na cama, olhou pro lado e viu seu amigo também sentado, chorando mansinho, triste e desconsolado.

-- Quê que foi, amigo? -- ela perguntou com suavidade.

-- Snif... você não quer transar comigo *soluço* só porque eu sou negro... snif...

Ela suspirou, sorriu de leve, colocou a mão no ombro dele e, carinhosamente, disse:

-- Não, meu amigo... você não entendeu... eu não quero transar com você só porque você não é n e g r a ...

Ele olhou pra ela através da penumbra, piscou várias vezes, os soluços foram desbotando... até que caiu a ficha! E ambos caíram numa grande e gostosa gargalhada.

Depois viraram-se cada um pro seu lado e dormiram feito dois castos anjinhos contentes.

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 27/01/2010
Reeditado em 27/01/2010
Código do texto: T2054270
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