O DESBALANCEAMENTO PRIMAL E OS GNOMOS
Existem fatos que podem mudar totalmente as nossas crenças – ou descrenças – mais inabaláveis quando acontecem com a gente. Eu, por exemplo, sempre fui um sujeito extremamente incrédulo, muitas vezes extremamente cínico. Crenças sem base científica, como horóscopos, “energia das pedras”, tarô, búzios etc - esoterismos em geral, modismos, achismos e outros “ismos” que volta e meia aparecem na mídia através das idéias de algum espertinho de plantão nunca tiverem espaço comigo. Mas aconteceu um fato que fez com que eu revisse meus preconceitos em relação ao Desconhecido, ao Poder aparentemente sem causa do Pensamento Universal, que quero relatar.
Tudo começou quando acordei, certo dia, sentido-me estranho, fora de lugar, como se não fosse eu que estava ali comigo. Você já se sentiu assim, com uma impressão de que está se esquecendo de algo importante, ou que algo sério está acontecendo e você não consegue atinar o que é ? Assim como sentir que alguma coisa está errada? Pois eu estava me sentindo assim, meio fora do ar, desatencioso, aéreo, meio perdidão...
Mas... conforme você lerá (claro, se quiser), eu descobri que não era o único a sentir isso! Fique sabendo, ó incrédulo leitor, que muitas, mas muitas pessoas mesmo, de vez em quando sentem essa sensação desagradável, às vezes fisicamente quase imperceptível, mas que é muito, mas muito real! E fique sabendo também que existem outras pessoas, ainda, que estudam profundamente esse assunto! É, tem gente que estuda essa angustiosa e indefinível sensação!
Pois, dizia eu, fiquei alguns dias assim, meio perdido, perguntando-me o que estava acontecendo, afinal. Será que havia esquecido de pagar alguma dívida, faltado a algum compromisso, se tinha prometido casar depois, essas coisas? Será que meu chefe estava bravo comigo e eu não sabia?
Eu ia convivendo com isso, ia levando a vida quase normalmente, até que, ao conversar com uma amiga (daquelas muito compreensivas, sempre disposta a uma boa conversa), comecei a descobrir o que estava me afetando.
Essa minha amiga é muito dada às coisas naturais, ao estudo dos Sentimentos e, é claro, muito esotérica ( sim, ela adoooora gnomos!). Disse-me ela que este momento que eu “estava vivenciando” ( palavras dela) nada mais era que um fenômeno chamado de “desbalanceamento primal”, mais conhecido pelas suas iniciais, “DP”.
Esse sentimento confuso é causado pela diferença entre as vibrações do meio externo – local onde o indivíduo se situa - e as do próprio indivíduo – cada um de nós (lembre-se de que tudo o que existe – e até o que não existe, segundo ela – tem uma vibração e, portanto, uma frequência).
Daí o “desbalanceamento”, quando essas frequências não são harmônicas e que é “primal” por tratar-se de uma manifestação primária do corpo anunciando ao cérebro esta divergência. Cacilda! Que papo mais... sei lá. Comecei a achar meio esquisita essa coisa toda, mas não comentei com ela, para não gerar desconfiança. Afinal, ela é assim tão...tão... tcham!
Pois então, como eu estava dizendo, essa amiga explicou-me que, em algumas filosofias orientais, essa manifestação corpórea é tida como o primeiro passo para a dissociação corpo-mente, quando dormimos, necessária para uma coisa conhecida como “viagem astral” (é muito para a minha cabeça cética. Deixo isso para uma outra conversa).
Assim , continuava minha amiga ( nessa altura, eu estava com um sorrisinho cínico a me coçar os lábios...), para deixar de sentir esse mal-estar do DP bastaria apenas algumas horas de relaxamento (Epa!! - pensei preconceituosamente – agora vai para um caminho que decidamente não é o meu), alguns momentos de reflexão, assim como um passeio no campo, que seria ideal para “absorver as energias das matas, das águas, das montanhas”. Tá.
Ela descreveu-me ainda que esse contato com a Natureza (assim mesmo, com maiúscula) equilibra todo o nosso sistema BIO-NEFELIBATA (não, eu também não sabia o que era isso!! ), por meio da ação dos “ELEMENTAIS” dessa mesma Natureza!
“AHHHH, pronto. Lá vem os gnomos...”, pensei. Falou em “elemental” e imediatamente veio à minha preconceituosa mente seres como gnomos, fadas, salamandras (sei lá porque salamandra é “elemental” do fogo - como me disseram-, se o tal bicho é aquático), cristais, pirâmides e sei lá mais o que. Mas mantive firme a minha postura altamente interessada e atenciosa nessa aula por ser ela minha amiga e uma pessoa deliciosamente agradável – não só por ser muito bonita, é claro, mas por ter uma conversa jovial e cativadora. E assim continuamos conversando, eu a ouvindo e ela discorrendo sobre a natureza e seus significados. Embora eu mesmo não soubesse, eu estava ficando impressionado!
Ela então acrescentou que existem pessoas que se aprofundam na meditação e percebem que a Natureza tem razões que a própria razão desconhece e a maioria dos simples mortais (eu, por exemplo, pensei comigo) sequer tem noção disso e nem vislumbra a menor luz dessa importante sabedoria. "E, por isso - fulminou ela, esses estudiosos, esses iniciados nunca sentem o desconforto de um Desbalanceamento Primal!". Ah, entendi... como eu não sou um iniciado (e não sou mesmo...), eu tenho o tal DP.
Ainda de forma relutante ( cadê os gnomos, cadê os gnomos?), fui mostrando um interesse cada vez maior no assunto (um interesse desinteressado, naturalmente, sem nenhuma segunda ou terceira intenção, acreditem!), mas fiquei meio sem saber se devia acreditar de verdade quando ela explicou-me (com aquele seu jeitinho maliciosamente ingênuo) o avanço que alguns estudiosos estavam conseguindo ao realizar testes bastante amplos sobre o assunto ( “tudo científico, comprovado, será publicado na Nature ”, garantiu ela).
E mais, nesses testes comprobatórios que após a avaliação energética de cristais raros, do eletromagnetismo quântico de pirâmides e da gravação da aura de gnomos (AHHHHHHH, exclamei silenciosamente, eis os gnomos! Eu sabia, eu sabia que iriam finalmente aparecer!), o DP estava próximo de ter sua existência devidamente comprovada! As pesquisas desse campo estão sendo realizadas, segundo ela ( olhando-me bem de frente com aqueles olhinhos mortiços, ui...), em Ibitipoca, aprazível parque montanhoso perto de Juiz de Fora, por uma equipe da HERB (Humanistas Errantes do Brasil, com sede na Bahia), uma ONG que protesta contra a Violência – vejam só – queimando mato!
Mas sabem o mais incrível? Os gnomos (sempre eles!!) tinham a ver, indiretamente com a tal DP!! Eu já estava zonzo de tanto ouvi-la e calar meu cinismo...
Bem... Apesar da minha aparente distância desses assuntos, eu já estava interessadíssimo, na maiooor seriedade, nos detalhes que ela me explicava ( e eu sequer percebia o seu perfume delicioso que me inebriava cada vez mais, com o maior respeito, é claro), mas eu ainda não tinha dado o braço a torcer: afinal, o que tinha a ver os gnomos de Ibitipoca ( uma entidade “estrangeira”! Por que não um Saci, um Curupira ou uma Mula-sem-Cabeça?) com o meu “Desbalanceamento Primal” ou seja lá que diabo fosse aquilo que eu sentia?
“Bem, Masca, Gnomos não são estrangeiros, são cosmopolitas, são universais ( ela sorriu-me com aquela boquinha, uh...). E tenha a certeza que outras entidades aparecem, sim, depende do momento”, convenceu-me, facimente, ela.
“Quanto aos gnomos de Ibitipoca, deve ser por causa dos mosquitos”, disse-me ela, com a cara mais séria desse mundo ( Mosquitos?? Pronto, dancei...fui incrédulo demais! Ela está zoando da minha cara!!)
Mas respirei aliviado quando ela continuou: “É que, em Ibitipoca, existe o “AEDES AEBYT” - não confundia com o outro mosquito, muito mais famoso quanto perigoso, de nome parecido e da mesma família , que traz a dengue - e esse díptero (fui ao dicionário: significa “duas asas” ) é o alimento natural de um sapinho azul – o anuro-das-folhas- que é a manifestação física dos gnomos quando precisam se alimentar de determinadas proteínas”, completou minha amiga (putaquepariu.. eu já estava entrando em desespero... mosquito? sapo azul? manifestação física? Proteínas? Caraio...que salada louca! Fiz um esforço para manter meu controle...).
Assim que me acalmei (olhando o jeitinho dela), percebi que eu já estava completamente envolvido pelo tema, com uma ainda maior sinceridade, é claro !
E ela não parou de me explicar: “Então, a existência do mosquito garante a presença dos gnomos e a aparição deles é a garantia da existência do equilíbrio natural e esse EQUILÍBRIO NATURAL é que vai curar o seu DP quando você estiver lá, entendeu? É importante que você entenda essa lógica irrefutável”. Ela deliciou-se ao ver minha honestíssima expressão de incredulidade.
Simples, né? Nessa altura, eu já estava procurando mosquitos ou qualquer porra de inseto em algumas plantas ali da pracinha. Então, para reforçar seus argumentos, ela, com aquele sorrisaço, me propôs irmos a Ibitipoca, para comprovarmos de vez suas afirmações. Eu, dotado da maior motivação, seriedade e com verdadeiro espírito científico e empreendedor, topei na hora!
E fomos a Ibitipoca.
Foi num sábado. Descobrir Ibitipoca com essa minha amiga sensível, humanista e extremamente amante da Natureza foi a grande virada da minha vida. Fomos a lugares especiais, onde nos deliciamos com a leveza do ar, com a musicalidade dos regatos e cascatas, com a exuberância das florestas e até – acredite! - com a pureza dos nossos sentimentos frente à fria objetividade humana com a qual eu convivi estes anos todos!
Foi aí que, numa profunda reflexão, abandonei de vez o meu ceticismo, passando a ser um ardoroso defensor de culturas milenares, após uma tarde muuuuito feliz dentro do mato! Não só vi gnomos, mas vi também salamandras, ondinas, ventinas, sei-lá-o-ques, noitibós, curupiras, gnomos, sacis, corujas, sapões, sapinhos, rãs e até uma bela perereca, uma aranha jeitosinha e, posteriormente, já em casa, uns pulgões, além de carrapatos ( tirei um agora bem daqui, ó, agora mesmo) e algumas formigas.
Mas o que é mais importante: somente quando minha amiga ( com um sorrisinho todo satisfeito) me perguntou sobre o que eu sentia após todos esses acontecimentos, é que percebi que o meu “Desbalanceamento Primal” tinha desaparecido completamente!! Sumiu, evaporou-se, tomou doril!
Portanto, meus heróicos e pacientes leitores, deixem de ser cínicos e passem a ver a Vida com olhos mais abertos. Pode valer a pena!