Mais uma vez recorremos ao que aprendemos na vida profissional, de verdade mesmo! Atuávamos no antigo e próspero Banco do Brasil, que hoje nada mais é do que um agiota oficial.

            A época dos financiamentos agrícolas estava por encerrar... Pouco mais de um mês ainda restava para apresentação das propostas por parte dos rurícolas, que naquele tempo plantavam mesmo o que se propunham em seus empréstimos. Hoje os pequenos aprenderam com os grandes a desviar o dinheiro para outras finalidades.

            Senhor Raimundo de Dora, um bananicultor de primeira, porém dos mais modestos, quase deixa se esvair o prazo... E aí estava praticamente com o ano agrícola perdido, pois lavoura não espera, basta chover e pronto, o negócio é plantar.

            Chegara a tempo de dar sua proposta. O problema era que não tinha terras, plantava em áreas arrendadas verbalmente, ela nas de João Francisco de oura Boiba (é boiba mesmo), lá pras bandas de Cumaru, em Pernambuco.

            Radiante, entrara no banco. Chamado, pela ordem das fichas, foi direto ao setor de propostas agrícolas. – Dotô eu quero dar uma preposta pra apranté dois hectare de banana; trabaio nas terras de Joca Boiba e meu percurador é Gomes Zumba; ele sempre me dá a carta de audiência (na verdade, carta de anuência, de permissão). – Mas pra investimentos não pode ser caro cliente, porque estaria valorizando as terras do proprietário. – Mas ele avaliza por mim, respondera. – Então tudo bem.

            A proposta fora recebida e aprovada pela gerência, isso em caráter excepcional, porque o BB era mesmo a mola propulsora do desenvolvimento desta nação; contrato liberado no valor de trinta mil cruzeiros, combinado ficara para liberação em três parcelas de dez mil cada uma. Bom negócio fizera o senhor Raimundo.

            Prazo de dois anos para pagamento da primeira parcela, porque a lavoura de banana não produz antes disso. E lá se fora o beneficiário do crédito com a primeira parcela, suficiente para aquisição de mudas selecionadas, o que era mais interessante, já que os trabalhos da roça eram feitos por familiares. Naquele tempo era assim, a família toda trabalhava pra valer, pra educar os filhos, isso antes dessa derrota que apelidarem de MST.

            Pois bem, passaram-se dois anos do contrato e o devedor nada de aparecer, nem pra levar as parcelas seguintes e nem pra quitar a dívida, o primeiro pagamento, como combinado. Talvez esquecido estivesse dos seus compromissos, pois era um sujeito cumpridor de seus deveres!

            Resultado: Fiscal nele, pra saber o que teria acontecido. A sua ausência era uma surpresa, em face da sua atuação sempre correta ao longo dos anos que trabalhava com o banco: Pontual, cumpridor dos orçamentos, comunicativo... querer mais o quê?

            À chegada do preposto do banco a recepção fora a de sempre, com elogios abraços amigos e boas vindas. Falara o fiscal: Meu amigo estou aqui meio surpreso, por ordem do gerente, pois está meio conturbado sem saber dos motivos que o levaram a tomar um empréstimo e nunca mais dar notícias. O que houve o senhor não plantou as bananeiras?

            -- Craro que aprantei dotô; venha comigo que eu vou lhe mostrá como aprantei tudinho no fundo de meu quintá. E chamou seu filhinho para acompanhar a inspeção. Em lá chegando, nada de vestígios da plantação, até que o fiscal notara umas rachaduras no chão. – Cave aqui, vamos, pediu ao garoto. Poxa, que surpresa: Os cachos de bananas, enormes, estavam dentro da terra, como se tubérculos fossem, talvez um milagre!

            Como se justifica isso senhor, perguntara o fiscal. É que meu filho ao invés de aprantar o ôio pra cima, aprantô pra baixo... Era banana pra dar e vender minha gente!.

 

Um abraço.

Em revisão.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 21/01/2010
Reeditado em 21/04/2010
Código do texto: T2042782
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