O ENTERRO DOS PALAVRÕES
Marcelo, meu sobrinho, quando pequeno, tinha o hábito de falar palavrões especialmente quando ficava nervoso. Isso incomodava imensamente minha mãe que nunca aceitou ouvir nomes feios, especialmente de criança.
Tentava contê-lo quando disparava uma coleção de nomes que ela abominava. No entanto, o menino não se emendava e ela ficava no maior desconforto.
Um dia “bolou” um plano para induzi-lo a não dizer mais aqueles nomes chulos.
Depois de servir um lanche caprichado, regado a leite condensado que era a sua maior paixão, ela conversou longamente tentando convencê-lo a não continuar usando tal linguajar. Ele prometeu a ela não dizer mais, mas disse também que eventualmente poderia esquecer e falar algumas vezes. E aí ele queria saber como faria para manter a promessa. Ela disse que isso não ocorreria, pois tinha um plano secreto e que aqueles nomes feios desapareceriam para sempre do seu vocabulário.
Menino curioso que sempre foi, quis saber o que teria de fazer. E ela sugeriu:
- Vamos enterrá-los!
O menino achou a idéia genial e minha mãe tratou de criar toda uma atmosfera de magia em torno do que iriam fazer. Chamou o jardineiro, pediu ao Marcelo que mostrasse um bom lugar no quintal onde o Sr. Antônio abriria uma cova para depois fazerem o funeral. Enquanto a cova era cavada eles voltaram a casa para preparar o velório...
Minha mãe pegou uma caixinha, tesoura, papéis e uma caneta.
Cortou vários quadrados médios e disse ao neto que ali eles escreveriam um palavrão em cada papel. Aliás... Os nomes eram tão feios que nem deveriam ser escritos, colocando somente as primeiras letras de cada um deles!
E começaram a função. Ela perguntando a ele sobre a primeira letra de cada um e escrevendo nos papéis devidamente preparados.
Ele foi dizendo:
-Vovó tem o M...! E ela anotou, dobrou e pôs dentro da caixinha. E ele continuou a citar: F D P.... B.... C.... e por aí em diante. Depois de todos escritos e guardados, foram até o fundo do quintal para enterrar definitivamente os palavrões.
Minha mãe, gozadora por excelência, fez discurso, jogou flores e novamente enfatizou a impossibilidade desses nomes voltarem a ser usados desde que estavam mortos e enterrados para sempre...
Voltaram para dentro de casa e continuaram as brincadeiras que estavam fazendo, quando meu sobrinho olhou para ela e para horror da minha mãe, disse:
- VOVÓ!... ESQUECEMOS DE ENTERRAR O PQP!.......