Cuidado com os elogios

Dia desses, enviei um elogio a um dos escritores prediletos aqui do Recanto, elogio este que não passava de mais um dos que habitualmente lhe presto. Poeta de mão cheia, realmente mente fervente. Dias depois, entre e-mails recebidos, estava lá o seu retorno:

De:...............

Para: Afonso Rego <regoafonso@terra.com.br>

Assunto: NÃO QUERO SER SERVIL, NEM SER TEU AMO. Obrigado...

Minha mulher, que tava comigo – a vizinha falou que é bom checar de vez em quando, pro marido não arrumar namorada na internet – enfureceu-se:

pera aí. Ah, não. Homem não! Num tô falano...

O que você escreveu pra ele? - perguntou.

Nada demais meu bem, respondi.

Como nada demais, se ele responde desse jeito?

Calma, calma. Que isso, tá me estranhando agora? perguntei.

( Puta merda! O calor me subiu pelo rosto).

Abre lá os comentários. Vão vê. - ordenou.

Abri e tá lá: “Lindo Marcos, é extasiante seu cantinho”.

Ela falou: ah, mas também...

Também o que? Será que... pera aí...num pode.

Eu tô me referindo ao soneto, pô. Éh! Ao soneto, juro.

Afonso, você já é avô. É preciso ter cuidado nesses comentários.

Nem todos são afeitos a elogios.

É verdade, concordei.

O cara pode ser um crânio, mas de repente, acha tudo isso uma baita de uma frescura. Vai que detesta elogios.

Também não precisa de tanta babação, né? -falou.

Deitei de cabeça quente. Dez minutos depois, ela roncando, eu olhando pro escuro do quarto, garanti. Amanhã vou excluir este poeta de meia tijela da “Minha Lista de Quem Sabe”, a lista de homenagem que presto aos expoentes do Recanto.

Onde já se viu isso, minha gente?

No dia seguinte, reabri o correio, pois não acreditava no ocorrido.

E então, o que senti?

Tchan, tchan, tchan, tchan,an,an!!!

Outra decepção!

Desta feita, comigo mesmo.

Aquilo de pensar que "ele concorda em que eu leia seus sonetos todos os dias, desde que eu me contenha", tratava-se apenas de uma questão de atenção, ou melhor, de falta de atenção.

Ai meu Deus. O nervosismo me atrapalhou todo;

“não quero ser servil, nem ser teu amo“ é apenas o nome do soneto do genial poeta.

Final feliz. Ainda bem!

O poeta continua lá, de cadeira cativa, em minha Academia Brasileira de Letras.

Cuidado com os comentários.

Abraços e desculpem-me pela vergonha de que passei.

Afonso Rego
Enviado por Afonso Rego em 16/01/2010
Reeditado em 03/02/2022
Código do texto: T2032395
Classificação de conteúdo: seguro