CARDÁPIO ESTRANHO

CARDÁPIO ESTRANHO

Um amigo de meu pai contou-me que, quando morava no interior, conheceu um fazendeiro que era analfabeto, muito rude e exagerado. Segundo ele, o tal fazendeiro conseguiu eleger um dos filhos como prefeito da sua cidade. Como o cargo exigia viagens do jovem prefeito à capital do estado, o pai era levado para aproveitar as benesses da mãe prefeitura e conhecer as coisas da capital. Em uma dessas viagens, o prefeito deixou o pai em um restaurante e saiu dizendo que voltava logo. Nisso, estando o velho sertanejo bem abancado, aparece o garçom e entrega o cardápio para que ele pudesse fazer o pedido. Ora, se o homem só conhecia o “o” porque era redondo; como poderia ler o cardápio? Para suavizar a situação, a mesa vizinha foi ocupada por um “viajante” que, ao receber o cardápio, fez o pedido em voz alta. Era tudo que o sertanejo queria, pois na mesma hora gritou para o garçom: “eu também quero em desse!”. As mesas foram servidas e seus ocupantes ficaram a refastelar-se por alguns instantes. Naquelas alturas do campeonato, o idoso, que não tirava os olhos do viajante, percebeu que o mesmo acabara de pedir um doce como sobremesa. Não contou conversa e disse: “eu também quero um desses”. Àquelas horas, o viajante já olhava atravessado para o vizinho de mesa e foi aí que teve uma idéia. Chamou o garçom e perguntou em voz baixa se ele podia arranjar um engraxate. Vendo que o garçom se retirava, o velho fazendeiro gritou: “ei, vai trazer pra ele, traz um pra mim também”. O viajante, antevendo o que estava para acontecer, disse: “não precisa, um só dá pra nós dois”. O senhor, do alto da sua indignação, tomou aquilo como uma proposta desaforada e esbravejou: “não senhor, você come o seu que eu como o meu”.