Um, dois, três, era uma vez...
1. No cabeleireiro
- Eu queria um curtinho básico, sabe? Algo tipo a Sandra Annemberg, ou aquele joãozinho da Mariana Ximenes, a loirinha...
- Sei, minha flor, mas este teu cabelão... o que vai fazer com ele?
- Vender, ué. Dá pra fazer umas vinte e três perucas médias. Não agüento mais as piadinhas, nem enrolar o cabelo pra sair na rua e não tropeçar nele. Aproveita e faz umas luzes, tá?
- Tá bem.
- Não vejo a hora de mudar de cara... Meu namorado vai ter que se acostumar com a Zel em nova versão!
- Por falar nisso, como vai ele? E o problema na vista?
- Melhorou. Nada que umas lagriminhas não curem.
- Vocês estão firmes, então?
- Ligeiramente brigados, eu diria. Ele me deu um perfume francês e eu rodei a baiana.
- Brigou por causa de um perfume francês? Enlouqueceu, mulher??
- Não enlouqueci, não, mas perdi a paciência. Chega de gozação. Ele que vá zoar com sua majestade a rainha mãe dele!
- Ué... o que tem o perfume a ver com isso?
- Tudo! Sabe que marca era??? Um Escada, que-ri-doooo!! ESCADA!
2. Distúrbios do sono
- Vamos colocar uns eletrodos em sua cabeça e conectá-los ao computador. Você passará a noite aqui no laboratório e nós vamos monitorar sua atividade cerebral.
- Não vejo a hora, doutor. Essa insônia está me matando!
- Imagino. Agora vamos à anamnese. Diga-me, há quanto tempo você não dorme?
- Deixe-me ver... há alguns anos, tive aquele incidente com o fuso da roca de fiar. O principe Felipe me socorreu e, depois que nos casamos, não consigo mais dormir!
- Ele ronca?
- Apenas ressona; nada que pudesse me tirar o sono.
- E qual é sua rotina antes de ir para a cama?
- Bem, nós ceamos, dispensamos os criados, vamos para o aposento real... e Felipe nunca deixa de me dar um beijo antes de dormir!
- ...
- Que foi, doutor??
- Nada não... é que me lembrei de uma outra paciente, a Branca... ela havia passado por um processo semelhante ao seu, mas com uma maçã; veio a mim com a mesma queixa que você e curiosamente tinha a mesmíssima rotina com o marido!
- E ela se curou?
- Sim.
- Como?
- Abandonou o príncipe e se casou com um anão...
3. Adequação arquitetônica
- É o seguinte: a resposta de uma estrutura à ação do vento depende tanto das características do vento incidente como das características dinâmicas da estrutura, isto é, das suas frequências próprias e do seu amortecimento. Assim, os pilares em concreto leve estruturado, sobre um alicerce contínuo de material não-rígido com uma base de neoprene de densidade controlada, permitem que toda a estrutura oscile com o vento, podendo desta forma...
- Um momento, Cícero. No primeiro semestre você começou seu projeto falando em “arquitetura sustentável”, em utilizar “materiais da natureza” que fossem menos danosos ao ambiente, como por exemplo as palhas resultantes da colheita do milho... Sugeriu inclusive que Heitor mudasse o material de seu projeto para madeiras certificadas, o que ele prontamente acatou! E agora você fala em “neoprene”?? Não estou entendendo que rumo tomou seu projeto inicial.
- Bem, professor, tivemos um pequeno incidente em casa, na verdade na minha casa e na do Heitor; assim, Prático me sugeriu uma nova pesquisa de materiais mais adequados, e eu imediatamente tive este insight.
- Um insight?
- Sim... ou talvez mais que isso: eu diria que foi um sopro de lucidez!
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Conte-me um Conto.
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