Matuto não é besta não!

 

            Quando o Banco do Brasil tinha a finalidade precípua de favorecer o crescimento da economia nacional, e diminuir os desníveis de renda intra e extrarregionais, aplicando grande quantidade de recursos nas atividades geradoras de riquezas, não era necessário nem o cliente apresentar projetos de empréstimos. Bastaria escrever num papel de embrulho o quanto precisava para cultivar, por exemplo, cinco hectares de bananeiras.

            É que no banco já havia orçamento padrão pra todo e qualquer tipo de empréstimo, em face da coleta que os fiscais faziam no campo, e era somente ajustar os valores de acordo com os preços praticados nas áreas que os clientes trabalhavam suas roças.

            A bem da verdade e na maioria das vezes, o agricultor trabalhava com a sua própria família (essa novidade que o governo anda falando nos tempos atuais: agricultura familiar; isso existe muito antes do descobrimento minha gente). Quer dizer o dinheiro era gasto entre os componentes do parentesco familiar.

            Na cidade de Limoeiro, em Pernambuco, Manoel do Xangô, um matuto foi ao banco e numa folha de papel colocara que precisaria de 400 contos de reis para suas lavouras daquele ano agrícola. Colocada a proposta no formulário base, feitos os cálculos, verificada a situação cadastral do proponente, foi-lhe deferida à operação na base de cem por cento para plantio de dois hectares de bananeiras.

            Levaria metade do dinheiro naquele dia e o restante quando começasse o período da colheita, ou seja, duas parcelas de 200 contos. E lá se fora o cliente, contente e satisfeito, agora com recursos para adquirir desde logo as mudas selecionadas, porquanto muitas propagandas andavam fazendo sobre elas.

            O banco lhe concedera dois anos para pagamento, o suficiente para liquidar a dívida, ainda mais porque os juros naquela época eram absolutamente suportáveis pelas classes menos favorecidas.

            Pois bem, daquele dia em diante, quando levara os 200 contos, nunca mais o Manoel voltara ao banco. Nem para buscar o restante da parcela. A dívida vencera. O gerente mandara fazer uma fiscalização imediata nas terras dele. Afinal, com uma tradição de bom pagador e aplicador correto das verbas tomadas por empréstimo, seu procedimento causava admiração entre a turma do banco.

            Lá se fora o fiscal naquele seu jipe 57, caindo os pedaços, mas empurra aqui, empurra acolá, e chegou ao destino. Muito bem atendido pelo lavrador e sua família, o funcionário lhe falou da preocupação do banco com aquela situação, mesmo porque o empréstimo já estava vencido. – Não doutô fiscá... o banco não me empresto 400? – Foi sim senhor. – Eu não truve 200? – Exatamente. – Então com os 200 que ficaro o banco paga os 200 que me deu.

            E ainda dizem que matuto é besta!

 

Um abraço. Bom dia.

Sem revisão.

ansilgus
Enviado por ansilgus em 07/01/2010
Reeditado em 21/04/2010
Código do texto: T2015516
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