Promessa de Ano Novo
Tenho um amigo cujo sonho sempre foi trabalhar em rádio ou TV, um entusiasta do microfone, uma daquelas pessoas que ainda conseguem ver magia no lúdico universo da comunicação em massa.
Conseguiu realizar seu sonho, pelo menos em parte!
"Atenção! Atenção! Oferta especial no setor de eletrônicos, liquidificadores por apenas R$ 40,00! Mas é só até o fim do estoque, aproveite!"
Uma parte bem pequena, mas pelo menos passa o dia todo falando ao microfone.
Em dezembro encontrei esse amigo radiante, havia conseguido um trabalho como animador de evento em um baile de reveillon e me convidou para ir vê- lo.
Sem ter nada melhor para fazer aceitei o convite.
Passamos o restante dessa tarde de dezembro em branda conversação, eu a dizer meus planos para 2010 e ele a me contar os seus, ou melhor, o seu único plano!
"Em 2010 vou estar na TV!"
Com exceção da data, foi a mesma coisa que ouví em 2006, 2007, 2008 e em 2009, portanto, não pude conter minha expressão de deboche.
"É sério! Eu sinto que dessa vez vai ser diferente, eu estou mais impetuoso, mais corajoso!"
Mudei de assunto e, em pouco, nos despedimos.
Chegada a noite da virada fui para o tal baile que era na zona leste.
Casa cheia, muita cerveja e a animação do evento seguindo sem grandes novidades, nenhuma na verdade.
Existem certos jargões que são tradicionais na animação de eventos, um deles é pedir o grito da torcida tal, e tal, e tal... Foi por esse caminho que meu amigo seguiu.
"Cadê a torcida do Santos?"
E uns oito gatos pingados urraram.
"Cadê a torcida do São Paulo?"
E mais um punhado de gente se fez notar.
"Cadê a torcida do Palmeiras?"
Dessa vez foram mais vaias do que qualquer outra coisa.
Zona leste, ainda mais a Penha, onde estávamos, é berço do Corínthians, o que explica as vaias!
E o animador prosseguiu.
"Cadê a torcida do Corínthians?"
E a massa em peso se manifestou aplaudindo seu todo poderoso Timão.
Podia ter parado por aí, mas meu amigo animador lembrou- se das promessas de ímpeto e coragem e emendou à saudação corinthiana.
"Vocês não tem dinheiro pra ir para a praia né?"
Onze e meia do dia primeiro de janeiro e meu valente amigo dizia com um sorriso no rosto.
"Não disse que ia aparecer na TV?''
E, do quarto do hospital onde ele estava internado com escoriações, continuamos assistindo a matéria sobre a confusão no baile de reveillon.