Paixão animal
O difícil trabalho de investigação requer uma atitude de desconfiança permanente. Mesmo com as modernas técnicas, ainda hoje os policiais enfrentam enorme dificuldade na elucidação dos crimes, especialmente os sexuais, cometidos na clandestinidade.
Meu avô materno, Antônio Alves Costa, na década de cinqüenta, foi delegado de polícia no interior do Ceará. Naquele período, pela completa falta de estrutura, o importante cargo exigia do seu ocupante um grau ainda maior de perspicácia na apuração dos delitos.
Em certa manhã, o Delegado Antônio Costa foi acionado para atender um desesperado cidadão que desejava “dar parte” do rapto de sua filha de vinte anos de idade. Imediatamente intimado a comparecer na Delegacia, o suspeito confessou que “roubara” a moça. Porém, temendo as conseqüências, principalmente a obrigação de casar, buscou diminuir sua responsabilidade. Assim, mesmo admitindo que fizeram uma longa viagem juntos, o rapaz insistiu que não havia “bolinado” a jovem.
A frágil versão apresentada só aumentou a desconfiança do Delegado, que, com seu alto e rouco tom de voz, argumentou:
- Meu rapaz, não queira que eu acredite nessa história. Pois quando solteiro, eu fui para um samba num local bem mais perto. Do sítio Umari até o Junco*. E só na ida eu namorei com a minha burra Gasolina duas vezes.
* atual município de Granjeiro
voce