O COLIBRI E O GAVIÃO

O gavião rondava à procura de uma presa que lhe saciasse negra e imprevisível fome, embora o calor deixasse os candidatos à tal sorte ao abrigo do sol.

_ Desse jeito vou morrer de fome, nem um rato pra ir agüentando o galho.

A visão do gavião, apurada e minuciosa não estava em situação de exigência, pelo que, qualquer coisa servia. Mas as coisas andavam realmente apertadas e as perspectivas de barriga cheia era para o gavião uma realidade cada vez mais distante.

_ Vou mudar meu rumo, a coisa aqui tá preta.

E pensando na parte norte da Floresta Negra, lembrou que na matinha dos macacos, havia enorme e variado campo de caça, porém a conveniência lhe aconselhava a manter-se afastado daqueles lados por ser ali o reino das ariranhas, apreciadoras de carne de aves e o gavião ( não que se esquecia disso) era uma ave, daí o risco de tão sinistro êxodo.

_ Conheço uma águia que foi para lá e se deu mal.

Afastando a idéia, portanto, pensou em seguida no rio sombrio onde vez por outra davam espetaculares saltos no ar, irrequietos peixes. Sendo a festa de qualquer martinho-pescador, tanto que esse último tinha morada certa nas proximidades, mas afastou também a idéia pois há dias uma coruja temporão estava num toco esperando um Martinho que num desses acidentes de percurso havia encontrado o ninho da coruja, chegando a agradecer aos céus aquela alimentação diferente que eram os filhotes da coruja. E a coruja aguardava então o acerto de contas.

_ Não posso entrar nessa briga.

Saiu novamente em sobrevôo, pousando num seco galho de paineira. Perto de floridas margaridas embelezando verdejante pasto quando sente a aproximação de algum pássaro, cujas asas batiam fazendo sibilante ruído atraindo de vez a atenção da ave de rapina.

_ Ora, mas é um colibri. É muita sorte a minha e sem perda de tempo decide o gavião que o colibri seria pois sua (frugal é claro) refeição por hora.

E preparou-se para que sem perda de tempo, no abrir do bico ( dele o gavião), o colibri já caísse direto na barriga, numa operação que por economia de tempo, não poderia durar mais do que trinta segundos considerando o diminuto tamanho do colibri.

Naturalmente, no entender do gavião esse colibri tinha como objetivo único lhe revigorar as forças, somente o tempo suficiente. Para novo ataque a uma presa mais polpuda, já que o pássaro com sua micro estatura física, possuía ainda, como impróprias para consumo ( do gavião) o bico alongado, as penas e os pés. "Era o caso", pensou o gavião, de avaliar a situação para saber se compensava, acho que é melhor deixar esse colibri pra lá.

Mas ocorre que a fome apertava e o colibri, alheio as intenções do gavião, rondava suas flores onde o néctar era abundante.

_ Vou devorar esse colibri - decide de vez o gavião que achou que perdia tempo demais com uma presa que há muito já deveria ter sido digerida.

_ Estou dando atenção demais a esse pássaro, vamos acabar logo com isso, os dias desse colibri chegaram ao fim hoje.

E num vôo rasante, em rápida manobra investe contra o colibri, cujos sentidos sempre em alerta safa-se com rapidez meteórica, e vendo sua paz perturbada resolve declarar guerra aberta ao gavião. E investe contra os olhos do gavião que por pouco não é atingido, o que o cegaria certamente.

_ Ora, mas esse bicho se julga esperto hein?

E o gavião volta a fazer movimentos e bater de asas, porém o colibri em muito mais ágil passou a efetuar sucessivos ataques aos olhos do gavião que se viu obrigado a bater em retirada fugindo de um adversário várias vezes mais rápido, só que o colibri achou que o corretivo serviria de exemplo ao gavião e foi no encalço, indo o gavião buscar refúgio no vale das cobras, pousando em ressecado arbusto.

_ Essa não! por pouco eu levo a pior.

O colibri passou evitando o vale das cobras, lembrando que o bote de uma cascavel era de uma rapidez considerável, rememorando que um beija flor, ao buscar néctar em flores rasantes havia sido surpreendido por uma cascavel a qual cujo bote havia sido de uma velocidade tal que, sendo o beija-flor abocanhado por inteiro, se alguém se fixasse nos dois, cobra e beija-flor, na hora do bote seria capaz de pensar que o beija-flor desapareceu no ar, dada a rapidez da cascavel, ( bom, o beija-flor desapareceu mesmo, mas não da forma a qual estou tentando explicar) e assim, lembrando do trágico fim desse seu parente, tratou de dar no pé ( quer dizer nas asas) daquela parte da floresta negra, esquecendo de vez o gavião. Que passou as atenções a algum filhote de cobra, sabendo que era preciso enxergar antes de querer mexidas com colibris.

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 12/12/2009
Reeditado em 08/02/2010
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