Pablo Pistacho

Pablo Pistacho

Acto I

Pablo, um pobre desajeitado, vive no sonho de encontrar uma vida melhor. A aldeia já não lhe garante subsistência, então parte para a cidade à procura da aventura.

Na chegada à cidade, sem conhecer os caminhos e as direcções, vira-se para uma jovem que lhe dá indicações.

Pablo:

Senhorita, pode dizer-me onde fica o hotel “Sempr’andar”?

Margarida:

É como o nome diz, é sempre a andar… ali à frente vai encontrar uma casa modesta, cuidado, para não bater com a testa.

Pablo:

Mas porque diz isso?

Margarida:

Vá em frente e veja bem, se tiver dúvidas pergunte a alguém.

Pablo:

Mas nem se apresentou, sou Pablo Pistacho, e a senhorita?

Margarida:

Margarida Bem-me-quer, que nome curioso o seu…

Pablo:

Acha?

É igual ao daquele pintor famoso.

Margarida:

Não é bem igual, mas entendo.

Pablo:

Não diga isso que me ofendo, sou Pablo Pistacho, artista plástico muito consagrado por sinal…

Margarida:

Ai sim, e o que pinta afinal?

Pablo:

Pinto flores, animais e máscaras de carnaval.

Margarida:

Só? E não faz nada abstracto?

Pablo:

Depende, já fiz uns abstractos sim, mas realmente o que aprecio é a pintura.

Margarida:

Pois bem, vejo em si pouca finura.

Pablo:

Por que refila, se não viu abaixo da cintura?

Margarida:

Seu anormal, não me volte a falar, a sua burrice é tamanha, nunca vi nada igual.

(Margarida sai)

Pablo:

Que sorte a minha, e eu a pensar que tinha companhia para esta noite.

(Pensativo)

Deixa-me cá ver se dou com o hotel… Espero que seja elegante embora não tenha muito dinheiro, cá me hei-de arranjar.

(Aproxima-se de uma casa em ruínas, asquerosa, distrai-se e bate com a testa…)

Pablo:

Mas a rapariga era bruxa ou quê?

(Observando a espelunca)

Mas que pocilga é esta?

Deve ter-se enganado, com certeza.

(Pablo dá conta de uma placa pendurada no telhado, bem perto da sua cabeça)

“Sempr’andar”, mas que raio, cornos nasçam nesta gente… mas que raio de sorte a minha… neste chiqueiro é que não fico.

(Aproxima-se uma senhora com muito mau aspecto: Desgrenhada, corcunda, desdentada e mal-disposta)

Dª Virgínia:

Oiça lá, seu estupor.

Saia da porta do meu hotel, antes que eu tenha que chamar as autoridades.

Pablo:

Da porta?

Você deve estar a gozar comigo, eu estou no telhado…

Dª Virgínia:

Tomara o senhor dormir cá uma única noite, ia ver se não gostava.

Pablo:

Pois sim, você deve ser fina… Olhe cá uma coisa, conhece uma jovem chamada Margarida Bem-me-quer?

Dª Virgínia:

Não se atreva a chegar pêro da minha afilhada Guidinha, olhe que ela é bonita e meiguinha… se você, seu malandro lhe põe a mão, está armada a confusão.

Pablo:

Eu não tenho muito dinheiro…

Dª Virgínia:

Ela também não cobra para fazer essas coisas seu porco…

Pablo:

Não era isso que eu queria dizer… não tenho dinheiros para pagar um hotel caro…

Dª Virgínia:

A conversa é sempre a mesma, entre lá… eu arranjo-lhe uma suite que você até se regala, homem.

Fim do Acto I

Lacrima D'Oro

Lacrima Doro
Enviado por Lacrima Doro em 08/12/2009
Código do texto: T1967109
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