Minha raiva era tanta, meu ''odio'' nao tinha tamanho.

                                        Nao conseguia pensar em mais nada, vim pelo caminho pensando, pensando....entrei ''desembestado'' pela porteira a fora e corri para a beira do rio...la' cavei um buraco fundo, nao muito largo nao...deitei de bruco e comecei a xingar, dizer palavroes, nomes feios, besteiras e dirigidas a quem eu tinha neste momento minha raiva voltada, meu odio......

                                        Os ''politicos'', os comerciantes desonestos, os puxa-sacos de plantao, os ignorantes de tudo...da cultura entao!!! quantos, meu Deus, quantos..e eles tinham votados a favor da '' demolicao'' do lindo Teatro Municipal....uma coisa secular, casa sagrada para amantes da arte, da poesia, das fantasias, das boas operas, das lindas musicas...sopranos, ligeiras, cavalarias..sonhos...sonhos..e agora, eles, os poderosos que nos, o povo, o povao dono do lindo Teatro Municipal..nao era municipal? entao? o municipio pertence a quem?...quem vota e coloca os ''maus e impiedosos'' por la"? nos...os inteligentes, os de cultura colocamos ''eles'' la' para fazerem o que fizeram.....demolicao!!!!.....ignorante sou eu que votei....tambem num voto mais....continuei votando...a esperanca e' a ultima que morre!!!....ta' tao velhinha ja', tadinha!!!!....

                                        Entao, no buraco cavado por mim...gritava, gritava....podem imaginar os nomes feios?....os palavroes?....chorava, minhas lagrimas regavam a terra molhada da beira do rio mais ainda, se misturando com o mesmo...o rio carregando minha raiva, o buraco recebendo minha ira, meu odio, minha raiva...coitados, do rio e da terra sagrada de Deus e dos meus antepassados..tudo ouviam, nada respondiam.....apenas um bem-te-vi....gritando,  bem-te-bi...bem-te-vi..e um fogo apagou respondendo....fogopagou....fogopagou....fui me acalmando, acalmando, sentei....olhei o buraco....cheio de agua do rio, escorrendo...indo de mansinho dizer para os peixinhos do meu sofrimento...e o rio se encheu mais ainda com as lagrimas de meus amigos...choravam por mim e pelo lindo Teatro Municipal que iria ser demolido....e foi.

                                       Enchi o buraco com a terra sagrada, bati bastante, bem batida, socada com forca que era para segurar minha raiva, minha ira, meu odio...ela, a terra sagrada, saberia o que fazer com estes sentimentos negativos.....nunca mais nasceu nada por la...nem tiririca, que tiririca nao nasce em covas abertas na beira de rio....e la' hoje e' uma cova....peixinhos meus amigos brincam por la'..riem, se divertem....eu nao, quando vou la' e vejo me lembro como tudo comecou...com a demolicao do lindo Teatro Municipal...

                                       Nao me canso de falar sobre isto, escrever sobre isto..muitos lutaram para que isto nao acontecesse...aconteceu...e eu e  muitos outros gostariamos de nao  mais ver este tipo de coisa acontencendo por este Brasil tao amado....muitos anos ja' se vao que isto aconteceu...e depois disto continuaram a destruir o passado...expulsando, mandando embora para sempre a nossa historia e nossas estorias, tudo em nome do progresso,...da modernidade.....ganacia isto sim!!

                                      Depois de gritar bastantes nome feios, me acalmar, tapar o buraco...agradeci a terra sagrada e fui subindo o barranco do rio  a caminho de casa,  mae Bene tinha me visto passar correndo que nem louco...ficou espiando de vies e me via la' da janela da cozinha e chamou minha mae e avo'...ficaram imaginando o que seria....quando vi que estavam me esperando na porta da cozinha, dei a volta e entrei pela sala...vieram...contei...choraram tambem...

                                       Quando meu pai e avo voltaram da lida, dos afazeres e minha avo' contou, foi aquele jantar sombrio, quieto, calado ate' que meu avo teve um acesso e disse poucas e boas aos berros e minha avo' chorando...minha mae consolando..meu pai calado,,mae bene ''abestada'' sem saber o que fazer....me abracando forte, os olhos arregalados...o branco dos olhos enormes... fomos para a varanda e meus avos comecaram a contar de quando se conheceram...iam ao teatro...ajudavam a trazerem cia.teatrais , operas, espetaculos....e sabiam que tudo isto tinha agora acabado....e minha avo saiu-se com esta"-

                                        Ate' a descoberta da eletricidade, quando Edison conseguiu produzir lampadas eletricas, o mundo foi sempre o mesmo....escuridao, velas,..entao com a chegada da eletricidade o mundo mudou....e aquelas pessoas que ainda eram do tempo do lampiao a gas, do carbureto, das velas...achavam que era o fim do mundo....para que a energia eletrica ''pegasse'' esta geracao teve que morrer e aquela que nascia, ja' acostumada com a energia eletrica achava normal, seguia a vida ....e assim vai sendo com todas as invencoes...e agora sabemos, eu e seu avo...teremos que morrer para que as novas geracoes achem normal derrubarem, acabarem com o passado.....e' a lei da vida.

                                         Discordei de minha avo'..disse a ela... e eu nunca iria achar correto...e ate' hoje nao acho.

                                         A fazenda ainda existe, a casa grande tambem...muitas coisas estao por la' ainda.....o lugar onde cavei o buraco tambem....dias destes fui  por la'....o rio ''comeu uma parte...derrubou, virou rio.....e meu grito? nunca foi ouvido...e nem o buraco restou...so' que minha raiva passou, o buraco na terra sagrada recebeu a mesma..mas nao guardou la' nao...o rio levou embora!!!......as vezes me pergunto:-  adiantou?......sim, para mim, sim...para o lindo Teatro Municipal nao.....hoje la' e' uma praca comercial.....lugar carrissimo!!!!                                    
WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 08/12/2009
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