O CÃO DE CAÇA
Autor: Jorge Gibbon
Lá no Albardão, onde eu ia passar as férias no tempo em que o meu tio era faroleiro, tinha muita caça. Seis quilômetros dali ficava a que é hoje a reserva ecológica do Taim: muita capivara, jacarés e aves de toda a espécie. Na época, os poucos moradores da redondeza caçavam livremente. Só para consumo próprio. Meu tio não caçava, mas gostava de comer caça, e eu também. Um amigo do meu tio, o Didão, caçava e distribuía parte da caça para os amigos. Didão tinha um cachorro especial para caça, um vira-lata chamado Totó, especialista na caça de capivaras. Totó arrepiava o pelo quando a capivara estava perto e apontava o focinho. Didão, caçador experiente, engatilhava a arma e rastejava até a presa. Tiro certeiro, sempre. Ou quase. Certa vez Didão errou o tiro e Totó saiu atrás da capivara, sumindo no meio do banhado. Duas horas depois, surgiu Totó, arrastando um peixe enorme, com mais de dois metros de comprimento. Didão, que já estava nervoso pelo sumiço do cão, não gostou nem um pouco, e num acesso de fúria deu um tiro no Totó.
- Cachorro meu não pega peixe. Cadê a capivara ?
Infelizmente, o tiro foi certeiro e Totó morreu. Ao abrirem a barriga do peixe, porém, encontraram uma capivara enorme dentro dela. Didão quase morreu de remorso !
Para homenagear Totó, Didão mandou fazer um par de botas do couro dele, e passou a usá-las quando ia caçar capivaras. O mais estranho de tudo é que sempre que havia capivara por perto os pelos das botas arrepiavam, e as pontas apontavam pro lado do bicho. Então Didão acariciava as botas e rastejava até a presa. E nunca mais errou um tiro !