COM QUE COR QUE EU VOU?

De negro...ou de preto?

Estamos às vésperas dum feriado que comemora mais uma grande conquista social: o feriado da "Consciência Negra", escolhido o dia vinte de novembro em homenagem ao aniversário de morte do ZUMBI DOS PALMARES, oportunidade que se conclama a todos para a reflexão sobre a justa e necessária inserção do negro na sociedade, negro a quem devemos o respeito e a admiração pela sua história, tão lamentavelmente marcada por grandes sofrimentos e por inúmeras lutas sociais ao longo, não só da nossa , como da história da humanidade.

Mas vocês devem se perguntar aonde que está o humor do assunto.

Pois é, o fato é que percebo que ando meio atrapalhada com os termos "negro ' e "preto" embora saiba perfeitamente que o primeiro é raça, e o segundo é cor.

Mas minha atrapalhação também tem origens culturais.

Quando eu era criança, não se referia a uma pessoa da raça negra nem duma forma e nem de outra.

Meus pais, naquela época, qualificavam as referidas pessoas como pessoas "morenas". E eu sentia que era um jeito carinhoso com o qual se referiam aos negros.

O que hoje vejo que também não é certo.

O moreno é um branco com uma tonalidade de tez mais ou menos escura, cujas várias nuanças dependem da quantidade de melanina e de melanócitos, e também da reação das tais células quando expostas ao sol, quanto à produção de seu pigmento protetor, a "melanina" .

Já as nuanças de cores da raça Negra (seriam os pardos?) depende da miscigenação, aonde obteremos os mulatos mais claros ou mais escuros e os cafusos, os primeiros do amálgama com brancos e os segundos com índios.

Eu por exemplo tenho um amigo "sui generis": mistura de negro com japonês. Uma bela e inusitada miscigenação.

E de toda nossa vasta combinação ganhamos as maravilhosas mulatas brasileiras, ícones genuínos da nossa terra.

E foi assim que certa vez, me perdi dum grupo de turistas dentro do centro histórico do bairro PELOURINHO, lá na maravilhosa Salvador.

Difícil se ver um branquelo por ali...a não ser os gringos albinos.

O nosso guia local, era um jovem negro muito bonito, alto, de porte atlético, muito culto, nos dava uma aula de história, de fato um tipão, daqueles tantos que vemos na telinha.

Combinamos um local para se encontrar depois do almoço num daqueles restaurantes de lá. Ainda não sabia o seu nome.

Terminando o almoço, fui para umas fotos com as baianas estilizadas... e daí...não o achava mais.

Não tive dúvidas: Cheguei no porteiro do restaurante e perguntei:"o senhor por acaso conhece um moço assim...MORENO, alto, bonito e bem falante que estava com o meu grupo de visitação? Eu me perdi dele..."

Gente, percebi no ato que minha descrição não agradou. "se for um moço assim como você descreveu mas... NEGRO, ele está logo ali, porque por aqui eu não conheço "moreno" algum. Juro, me senti mais vermelhinha que índio!

Agradeci e entendi perfeitamente o recado, ou seja, a nítida exteriorização do sentimento da "Consciencia Negra". Nunca mais esqueci daquele episódio.

De lá pra cá, sempre trato de tomar cuidado com as definições das nuances das cores.

Mas ainda me complico: por exemplo...temos o rio Negro e o rio Preto.

E no caso do feijão? Seria preto ou negro? E as pérolas porque são negras...e não pretas?

Bem, pela definição preto é cor...e rio não tem raça e nem feijão tem.

Pérola tem raça? Não é confuso?

Mas ainda assim, hoje me atrapalhei numa loja de grãos naturais.

Fui atendida por um bela mulata, toda especializada em comida natural, e quando lhe perguntei na melhor das boas intenções" você tem arroz negro?", apenas por entender o termo "negro" como mais respeitoso e elegante, ela com um sorriso iluminador, e num lance humorístico me respondeu docemente: você quer dizer...arroz preto?"

Gente, não acerto uma!

Brincadeiras à parte, deixo aqui, nesse texto, sinceras desculpas pelas minhas coloridas confusões, e mais que isso, minha também sincera homenagem à Raça Negra, cuja consciência tanto engrandece a luta pelo respeito às diferenças.

Mas cá entre nós...se me permitem um trocadilho: fosse amanhã não o dia da "CONSCIÊNCIA NEGRA ", mas o da "INCONSCIÊNCIA PRETA"...teríamos que dar folga para muitas das nossas "excelências" lá de cima! Não acham não?

E embora o humor deles..seja negro, lá, eu não tenho essas dúvidas: a "coisa" tá é preta!

Mas pra festa de amanhã... vou é de pretinho básico! Fui!