CONSULTA PSIQUIÁTRICA - ACONTECE RARAMENTE, MAS ACONTECE...
Diálogo ocasional entre cliente e psiquiatra.
C - Cliente
P - Psiquiatra
C - Alô! Doutor, aqui é Fulano(a). Tudo Bem? Estou lhe ligando para he pedir desculpas, pois não vou prosseguir com o seu tratamento.
P - Verdade? Me conta o que aconteceu?
C - Na verdade eu ainda estou com aquela dose inicial de antidepressivo e o ansiolítico leve que o senhor me passou, mas decidi parar com tudo!
Eu durmo pouco, continuo chorando de vez em quando e estou com ansiedade frequentemente!.
P - Até agora nenhuma novidade, você está como estava há 15 dias atrás. Por que não me comunicou, como lhe pedi?
C - Porque eu sabia que se fizesse isto, o Senhor iria aumentar a dose, como me esclareceu na consulta! E eu já não quero tomar esta dosagem, quanto mais aumentar...
P - Mas se voce acha que não precisa tomar, faça uma retirada lenta, reduzindo um pouquinho nas doses e aí vai testar, se piora ou melhora".
C - Sei que minha metade e o senhor vão ficar bravos comigo!
P - Deixe-me explicar de novo o que eu lhe falei na primeira consulta; naquele dia você estava ansioso(a), talvez não tenha absorvido bem minhas explicações.
C - Eu entendi tudo o que o senhor falou, não pense que sou burro(a)!
P - Jamais pensaria isto, mas a ansiedade...
C - ...Foi sempre minha companhia, bem como a tristeza, mas o Senhor se intrometeu a mando da minha outra metade e tentaram me confundir!
P - Acho que posso lhe ajudar a tirar sua dúvida: procure outro colega, converse com ele sobre seu estado e seus medicamentos e tome uma segunda, ou até terceira opinião, se precisar. Depois me conte o que concluiu. Jamais gosto de deixar dúvidas na cabeça de meus clientes...
C - Veja como o Senhor é esperto: joga estes pontos, para deixar a gente com remorso.
P - Voce conhece alguns clientes meus, como já me contou. Por que não conversa com eles e veja se não repito isto, como minha meta de honestidade. Eu mesmo nunca ficaria em dúvidas diante de um diagnóstico. Iria querer sempre confirmá-lo.
C - Mas o tratamento não está adiantando nada!
P _ Como ia repetir-lhe anteriormente, todo psiquiatra de bom senso começa um tratamento com doses pequenas, estabelece um canal de comunicação e vai modificando a prescrição dos remédios conforme a necessidade. Por enquanto a dosagem não está correta!
c _ Mas se eu for aí o senhor reduz a dose?
P - Preciso ve-lo(a), mas não posso afirmar isto, pois me parece que seus sintomas são decorrentes da depressão e para corrigir, provavelmente terei que ajustar a dosagem do anti-depressivo...
C - Está vendo! O Senhor não me deixa alternativa!
P _ A alternativa que voce tem, é de melhorar se tudo estiver corrigido!
C - Mas parece que não entende o que eu digo: sempre fui normal assim!
P - E o que é a normalidade? Ter crises de angústia por pouca coisa?
Chorar sem motivo? Viver infeliz?
C - Cada qual é como cada qual!
P - Perdoe-me, mas não acho que exista normalidade em viver angustiado. Talvez num futuro próximo, com os dirigentes mal escolhidos por nós, ignorando as mudanças no povo, possamos ter saudades de quando só tínhamos angústia, mas mesmo assim a Medicina estará atenta para atuar nestas mudanças.
Surge uma pergunta: Apesar de levarmos um papo gostoso e demorado, buscando seu interior, ficou algo que gostaria de dizer e não falou, na consulta anterior?
C - Eu repeti até a exaustão: eu sou feliz sendo assim!
P - E se os que lhe cercam não concordarem em viverem atrelados a uma pessoa que sofre, o que pode acontecer?
C - Agora o Senhor foi fundo na chantagem! No fundo admiro-o por ser esperto.
P _ Obrigado, mas você está fugindo à minha colocação...
C - Sabe, doutor, meus créditos do celular estão acabando e eu vou ter que desligar. assim que puser mais créditos poderemos voltar a conversar?
P - Certamente, mas pediria que fizesse isto fora do horário de consultas, pois à minha espera estão alguns clientes.
C - Fique tranquilo, até lá, um abraço e a certeza de que continuarei a tomar os medicamentos nestas doses pequenas, como o Senhor chama.
P - Um abraço!
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Este diálogo foi redigido com o intuito de mostrar o preconceito quanto ao tratamento psiquiátrico. Ainda hoje existem pessoas que creem que nossa medicação é danosa, que faz acontecer desgraças não previstas, que usamos de transformações indevidas.
Estudos recentes mostram que a maior parte do tempo de consulta psiquiátrica está concentrada no convencimento ao uso dos psicotrópicos, geralmente confundidos com drogas alucinógenas, alienantes, causadoras de um sono incontrolável, de um desvio de atenção que pode custar um emprego, uma vida, quando dirigindo veículos.
Se esta fosse a realidade, imaginem a quantidade de psiquiatras processados ou cassados!
Quando proibimos o uso dos medicamentos com drogas que possam potencializar os efeitos dos medicamentos, não raro temos que usar muito discurso para dissuadir os teimosos, com eles mentindo para si próprios sobre isto.
Tenho observado que o pisiquiatra tem, em muitas ocasiões, assumido o papel de médico de família, como existia anteriormente, sendo preciso deixar bem claro, que a diferença está em não dirigir os pensamentos dos clientes, mas despertá-los.
PS: Tive hoje a satisfação de ouvir uma bronca inicial com os mesmos argumentos que descrevi, pela pessoa participante deste diálogo.
Depois de um começo turbulento e mais algumas explicações complementares do que é um tratamento psiquiátrico, ela caiu em si, reconheceu estar precisando um reajuste medicamentoso e eu lhe mostrei este artigo. Depois de muitas risadas, trocamos um belo aperto de mãos, onde irradiava compreensão pelo papel assustado, sem razão, que imprimira ao diálogo.
Sinto que este deve ser o caminho.
Afinal quem agride está inseguro e faço de tudo para não me sentir agredido, pois somos humanos e precisamos de muita compreensão, sobretudo nas horas difíceis.
Abraços.
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