PÓ DE CAFÉ
Compadre Juvenal estava de olho na sua comadre Rosa, mulher do compadre Trancoso, fazendeiro vizinho e amigo desde criança. Juvenal lutou o quanto pôde para afastar aquele sentimento que lhe fustigava o peito, mas não teve forças para resistir à grande atração que a Rosa lhe provocava.
Certo dia o Trancoso viajou a negócios, recomendando à sua mulher que tocasse a fazenda na sua ausência. Não demoraria, pois detestava deixar a mulher sozinha.
O compadre Juvenal, logo soube da viagem do Trancoso, montou seu cavalo baio e partiu ligeiro pra Fazenda do Brejão, doidinho para ver de perto a sua comadre Rosa. E tome galope! ...
Lá chegando, apeou e bateu à porta. Comadre Rosa veio atender e ficou surpresa ao vê-lo sòzinho e esbaforido.
“- Olá, compadre Juvenal! Mas que diabos vosmecê tá fazendo por aqui? O meu marido tá viajando!...”
“- É, comadre, eu tô sabendo mas eu preciso entrar. Quero falar com a senhora! É muito importante pra mim.” – E não se fez de rogado, foi logo embarafustando casa adentro, acomodando-se na poltrona larga da sala, a preferida do seu amigo Trancoso.
Aí começou o dilema. Comadre Rosa sentou numa cadeira à frente do intruso, muito constrangida e o Juvenal procurou entabular uma conversação sem pé nem cabeça, embromando, velhaco, a simplória fazendeira. Típica conversa pra boi dormir.
Chegou num ponto em que a prosa empacou e os dois ficaram naquela sensação de beco sem saída, o Juvenal fixando os olhos gulosos nos joelhos roliços da sua adorada comadre Rosa. Súbito ele decidiu, respirou fundo e fuzilou:-
“- E aí, comadre? Nós vamos trepar ou vamos tomar café?...”
E a comadre Rosa, enrubescendo de tanto acanhamento, respondeu de pronto:-
“- Oh, compadre! E se eu lhe disser que o meu pó de café acabou?!...”
-o-o-o-o-o-
B.Hte., 11/10/04