Apagão luminoso
Apagão luminoso (10nov09)
O apagão trouxe muitas histórias.
No Jornal Nacional foi quase uma hora inteira
sobre o que apagou e o sufoco dos que se
prejudicaram. Não foi brincadeira.
Imagine na UTI , um parente ligado em
aparelho-esperança que , de repente, apaga?
Um filho, um irmão, um marido?
Estarrecedor!
Na hora que apagou tudo por aqui, nada
disso me ocorreu, nem mesmo sabia
que era um importante apagão nacional.
Falando o óbvio... fiquei sem ar,
sem ventilador, sem Net,
sem som, sem Tv, sem livros.
Sem euzinha!
Quer dizer: completamente sem vida útil.
Engraçado o que o condicionamento faz.
Com meu farolete poderoso em mãos,
fui à cozinha e quis esquentar ,
no microondas, uma água
para o cappuccino.Não deu certo.
Depois quis acender o fogo do fogão .Daí
tive que achar um fósforo. Será que
sou assim tão desligada- apagada
ou acontece com você também?
Meia- noite . Resolvi ir ao quintal.
Impossível permanecer dentro de casa
sem os refrescos habituais.
Comecei a inventar moda com minha
lanterna-poderosa ,iluminando aqui e ali,
vendo os efeitos das folhagens
de modo diferente.Os pequenos insetos.
Reflexos que nunca havia notado.
Que interessante...
Preciso ir mais vezes ao quintal, nas madrugadas.
Vi , também, umas formigas carpideiras no
meu canto precioso de experiência vegetal ,
onde nenhuma planta vinga e descobri porque!
As danadas cortam tudo e carregam pra longe.
Filas de formigas !Que raiva.
Mas não matei nenhuma.
O apagão apagou essa vontade primitiva.
Dalai Lama tem razão em deixar a natureza
seguir seu curso, pensei. Compactuei.
E me concentrei em outras coisas.
Dei uma espiada nos ninhos dos passarinhos
que nem se tocaram com o apagão,
mas comigo sim! Deviam estar se perguntando,
com os olhinhos abertos e assustados :
'-O que essa dona bruxa anda fazendo por aqui
a essa hora? Não vai dar sossego nem à noite?"
Os cães alegres, adorando a incursão noturna.
Uma hora da manhã, a investigação no
pequeno 'centro ecológico'estava encerrada
mas a luz não vinha. Resolvi pegar uma
pequena escada para verificar,por cima do muro,
a rua para ver se a FORÇA E LUZ, com sua
camioneta estava em algum trecho ,
em ação reparadora nos postes.
Meu poderoso-farolete iluminando tudo.
Nada. Silêncio e vazio.
Mas nesse exato momento, entra na rua um carro.
Pronto...pensei eu.A luz voltará, achando
que eram os técnicos da eletricidade, já que existe um
grande transformador aqui perto , responsável
pelos apagões mais particulares.
Mas... eis que ali , na casa mais adiante, estaciona
o tal . A minha poderosa-lanterna-xereta
segue o foco, ingenuamente, creia ,
e vê descer a vizinha bem idosa, bem idosa mesmo,
viúva há pouco tempo...
Ao seu lado , um gajo se despede com grandes
abraços e beijos. Apaixonados !
O meu farolete-xereta-poderoso levou um choque,
se apagou e dentro desse banal apagão
me senti intrometida e um tanto apagada.
A despeito da noite mui escura, acabei vendo
o que nem devia.Nem é da minha conta.
Quase caí da escada. Mas fui dormir feliz pensando
como Mário Prata tem razão :
' nossos velhos não são mais como os de antigamente'.
Sei que alguns se apagam , porém, muitos outros
se acendem. Graças a Deus !
O meu farolete-desligado-mixo voltou para o armário ,
eu voltei à vida 'útil'... ( ? ) pois a luz voltou !
Mas que um apagão desses acaba
trazendo muita coisa às claras ,
nem quero discutir....