Enivalda e Franilsson em “Jesus, apaga a luz!”
Toda sexta-feira, Franilsson vai para casa de Enivalda, sua namorada e passa todo o final de semana lá.Mas o diabo é que o porteiro, além de ser carente de neurônios, é todo trabalhado na distração:
-Jesus, apaga a luz!Tu é sócio da Eletropaulo, seu coisa? Espie só: deixou a luz da casa inteira acesa!
Enivalda, além de distribuir fortes tapas na nuca do namorado todas as vezes que ele se esquece de apagar uma luz ao sair do ambiente, ela é o exagero em diarista: se a luz do quarto dela está queimada há meses por conta de um curto-circuito e na cozinha eles estão, a “casa inteira” da qual ela se refere, resume-se ao banheiro!
Franilsson já fez de tudo na vida: já foi feirante, camelô, ajudante de pedreiro, vigia...Mas por conta da última trapalhada como porteiro ( ele entregou uma encomenda de sex-shop no apartamento errado) foi sumariamente demitido.
Desempregado, foi passar uns dias na casa de um primo estudado no sul do país:
-Ah, tô cansado de tanto tapa na nuca, o que que há!
Uma noite, o primo telefona-lhe desesperado:
- Franilsson, preciso da tua ajuda!Caso de vida ou morte, depois te explico melhor!Fique duas horinhas aqui no meu posto de trabalho até o outro empregado chegar.Se o telefone tocar, tu dizes que eu tô mexendo nas máquinas! Te dou cem malandros se tu fizeres isso por mim!
Franilsson topou: ganhar cem reais “no mole”, como ele disse, não era nada mal.E ainda por duas horinhas de nada!
Com os fones no ouvido, Franilsson nem percebeu o tempo passar.Já estava no emprego do primo há duas horas e meia.Achou um desaforo! Onde já se viu? O primo disse que o outro empregado chegaria para assumir o posto, mas cadê?
-Ninguém vai me fazer de bobo, não!Fiquei o combinado e basta!Vou-me embora!
E antes de sair, Franilsson, que já tinha aprendido a lição de tanto apanhar da namorada, apagou as luzes.To-das! Era um pouco mais das dez da noite.
No outro dia de manhã, soube da pane de distribuição de energia, o apagão: seu primo era funcionário da Usina Hidrelérica de Itaipu:
-Paciência, foi sem querer! - disse de si para si- Mas pensando bem, Enivalda não pode reclamar.A luz da casa dela ficou apagadinha, apagadinha, dessa vez!
(Maria Fernandes Shu – 11 de novembro de 2009)