Causo sério...
Estava tomando um sorvete, destes de groselha, na padaria, quando escutei uma conversa que custei a acreditar. Chiquinho contava a estória com ar de estupefação, um tanto apavorado, veja só:
Aconteceu algum tempo atrás um causo de união incestuosa lá pras bandas de Batista Botelho, um vilarejo da minha cidade, e o resultado veio a se revelar bem na hora do meu sorvete. Chiquinho era sujeito sério e só falava coisa séria. Contava o causo e o povo ia se ajuntando pra ouvir. Eu, moleque, me enfiava no meio deles interessado no fato. Fato? Muito boato corria por lá, mas da boca do Chiquinho só podia ser fato...
Disse então que, um dia antes do causo se espalhar, tinha ido levar verduras e legumes na Santa Casa e viu que o pessoal do hospital tava meio que abobado. Ouviu então sobre uma criança estava na maternidade, que tinha nascido a pouco, fruto daquela união proibida em Batista Botelho.
Deve ter sido castigo por que a criança mais parecia uma centopéia de tantos braços que tinha...
O povo duvidou, uns saíram do tumulto que seformou,injuriados com tamanha besteira, mas o Chiquinho arrematou pra não deixar dúvidas, que tinha subido na janela do berçário e viu mesmo a pobre, tinha em cada braço mais seis bracinhos!
Foi à conta. O povo resolveu tirar a limpo e já iam se bandeando pros lados da Santa Casa quando Custódio, que também era digno de todo o crédito e amigo inseparável do Chiquinho acalmou o povo dizendo que não adiantava ir lá por que a mãe já tinha ido embora com a criança. O povo ficou sem ação e ao mesmo tempo duvidando do Custódio também.
Ele então, calmamente, explicou que estava vindo de Batista Botelho naquela hora e que embora não tivesse visto a criança viu estendido num varal uns paletozinhos estranhos, com seis bracinhos de cada lado. Só não lembrava direito onde foi, mas com certeza , quando esta criança crescesse ia contratar pra colheita de café, imagine só o rendimento dela!
Pois é. É a peste, mas é verdade!