RAPAZ GABOLA

Aos dezenove anos o Lorico era um rapazote gabola, falastrão, desse tipo que fala pelos cotovelos. Chegava numa roda e, sem a menor cerimônia, soltava o verbo! Falava de tudo e de todos, comentava sobre futebol, política e religião, um verdadeiro língua solta, irresponsável. Era o terror de Tangará da Serra.

Metido a namorador, certa feita foi até a farmácia do “Seu” Pinheiro e abriu a caixa de ferramentas:-

“- O senhor tem aí, por acaso, camisinha de Vênus? ...”

“- Tenho sim, por quê?” – respondeu-lhe o comerciante.

“- Eu quero uma, tá? Arrumei uma namorada nova, sabe? Dessas moças pra frente, safadinha, e vou me encontrar com ela logo mais ... Vou preparado, né? Pois nunca se sabe, né verdade? ...”

O farmacêutico trouxe o preservativo, cobrou, o gabola pagou e se dirigiu à saída. Mal botou o pé na calçada, retornou e voltou à carga:-

“- Olha aí, eu vou levar mais uma camisinha, viu? Minha namorada tem uma irmã muito da sapeca e ela tá me dando bola. Um homem prevenido vale por dois, né mesmo? Me dá mais uma.”

Pagou, despediu-se e saiu. Deu alguns passos na calçada, rodopiou nos calcanhares e adentrou novamente a farmácia do “Seu” Pinheiro:-

“- Moço, eu quero mais uma camisinha. Sabe, a minha sogra é um mulherão, uma coroa muito bem apanhada e, dizem as más línguas, é chegada num garotão aprumado que nem eu. Aí já viu, né mesmo? ...”

O farmacêutico lhe passou o preservativo, cara fechada, sério, cobrou e o sujeito finalmente saiu do seu estabelecimento.

À noite, todo arrumado, o Lorico dirigiu-se à casa da namorada, convidado pra jantar pela primeira vez, ocasião em que seria apresentado oficialmente como o namorado da filha mais velha da família.

Chegou, foi recebido carinhosamente pela moça no portão da residência, entrou, foi apresentado ao pai, à mãe, à cunhada e tomou assento à mesa. O jantar transcorreu num clima pesado, o chefe da família sisudo, de pouca prosa, a sogra muito da sem graça e a cunhada então, essa não deu nem um pio! ...

No portão, à saída, a namorada tentou dar um agarrão no Lorico, dizendo:-

“- Meu amor, mas como você é tímido, heim? Você entrou mudo e saiu calado. Esse lado seu eu não sabia! ...”

“- Pois é, eu também não sabia que o seu pai era farmacêutico, né? ...”

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RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 05/11/2009
Código do texto: T1905669
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