APETITE VORAZ
A moça donzela se casou e mudou-se com o marido para o interior do estado, Salinas, onde ele era médico conceituado, objetivando uma vida de sonho e de rosas.
Sua mãe, Dona Bela, corujona como sempre, ligou já no dia seguinte à viagem e indagou da filha querida:-
“- E aí, minha filha? Como foi a primeira noite? Tudo correu bem?...”
“- Ah, mamãe, como assim?”
“- O seu marido a comeu? Não negou fogo?”, quis saber a velhota enxerida.
“- Ah, mãe, para com isso! Eu tenho vergonha de falar essas coisas ao telefone. Pode ter uma linha cruzada, podem nos ouvir.”
“- Então vamos falar em código, tá? Eu pergunto quantos “bifes”ele comeu e você responde, certo?”
No dia seguinte, a mãezona ligou de novo e já foi logo cobrando da filha:-
“- E aí, meu bem? Quantos “bifes” o maridão comeu ontem?”
“- Um “bife”, mãezinha”.
“- Hum ..., está certo.”
Jogaram um pouco de conversa fora e a velha ficou de telefonar no dia seguinte.
“- Bom dia, filhota! Tudo bem? E aí? Quantos “bifes” seu marido comeu ontem?”
“- Apenas um “bife”, minha mãe.”, respondeu a jovem, com indisfarçada timidez. A conversa lhe era difícil, ela não possuía o gênio da mãe.
O dia se foi, a tarde também e a noite chegou, romântica, inspiradora, com o céu borrifado de estrelas. A velha suspirou da janela do seu quarto, na cidade grande, e pensou lá com os seus botões:- “- É hoje que a jurupóca vai piar!...”
Manhãzinha, logo após o café, a inconsequente foi ao telefone e ligou para a residência da filha:-
“- Bom dia, meu amor!... É a mamãe. E aí? Quantos “bifes” o marido comeu na noite de ontem?”
“- Ah, mamãe, apenas um “bife”.
E a outra, avoada, num misto de decepção e incredulidade:-
“- Não, não é possível! O seu pai, já na primeira noite, comeu três “bifes”, duas “rabadas” e ainda lambeu os pratos!...”
-o-o-o-o-o-
Neves, 05/03/98