STELLA, A FEITICEIRA CELTA 
                              COM TPM



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     Certo dia Stella, uma feiticeira celta radicada no Brasil há 128 anos, resolveu passear pelos céus da cidade de São Paulo com a sua vassoura voadora. Como a tarde estava linda e romântica, resolveu aterrisar num shopping center para tomar um suco de gergelim gelado. E entre um golinho e outro, ficou a ler, compenetrada, o livro "Globalização da Bruxaria" pois na semana seguinte teria uma prova na Real Academia de Feitiçaria da Inglaterra, onde fazia pós-doutorado.   

Stella lendo o livro de bruxaria na cafeteria


    
De repente, Stella sentiu uma brisa lhe acariciar o rosto...
- Estranho, o ar condicionado deve estar direcionado para mim... - pensou.
     Olhou ao redor e, não vendo nada de anormal, retornou à leitura do livro.  Mas, como feiticeira desconfiada que sempre fora, deixou seus sentidos em alerta, principalmente o sexto-sentido, aquele específico de mulheres. Acionou também o sétimo-sentido; este, exclusivo de feiticeiras veteranas com mais de 500 anos, que permite detectar a presença de seres aparentados tais como magos, ET´s e bruxos...
     Decorridos alguns minutos, seu sétimo-sentido colocou-a em alerta.
-Êpa, tenho companhia... Aquela brisa que senti foi a chegada fortuita de algum colega bruxo... -  pensou Stella.
     Então, com a sua visão periférica varreu atentamente o entorno da mesa que ocupava. Ninguém tinha jeito de bruxo, ou algo parecido, mas a sensação de estar sendo observada continuou.
- Se esse "colega visitante" quiser me abordar, que chegue até a mesa onde estou! - pensou, já meio inquieta.
     De repente, seu celular tocou. Ela olhou instintivamente para o visor do aparelho e viu que era um torpedo. Acessa sua caixa de mensagens e lê:  "VIM DO ORIENTE PARA TE CONHECER, LINDA FEITICEIRA", escrito em caracteres orientais arcaicos (seu aparelho estava programado para receber mensagens em 3785 línguas, desde o tupi-guarani até o grego pré-socrático).

Stella lendo a mensagem


     Stella, então, olhou para trás disfarçadamente, como quem fosse pedir algo ao garçom, flagrando um homem oriental vestido todo de preto, com um celular na mão.
- É ele!   Hummmm, até que é um bruxo ainda jovem... Deve ter uns 700 anos só...  Hummmm...   -  pensou romanticamente.
     Mas as horas foram passando e nada acontecia.  Stella, como toda mulher, foi ficando impaciente com a torturante espera e, imaginando que era uma gozação do bruxo, resolveu dar o trôco. Como estava lendo justamente o capítulo "Receita de poção para transformar um homem em batráquio", pensou maldosamente:
- Ahammmm... já sei como lidar com esse bruxo metido a conquistador! 
     E, então, disfarçadamente abre a sua bolsa (já viram mulher sem bolsa?), retirando de dentro alguns objetos: um caldeirãozinho, um frasco com água do Mar Morto e outro frasco com pó de asa de morcego da Patagônia. Coloca a água e o pó no mini-caldeirão, nas dosagens recomendadas pelo livro, e mexe com o dedo mindinho.

O mini-caldeirão de Stella



- Vou pedir para o garção colocar esta poção no copo de bebida daquele bruxo... - planejou a bruxinha, com um sorriso cínico.
     Planejado e feito. Subornado pela bruxa, o garçom se esgueira por trás do balcão e, sem que o homem de preto perceba, coloca a poção no copo de suco de cebola e alho que este pedira. Absorto com a leitura do tratado "Como transformar feiticeiras rebeldes em gentis serviçais", o bruxo vai sorvendo seu delicioso suco. Decorridos alguns minutos, começa a sentir um calor anormal.
- Pô, estou sentindo uma sensação esquisita... Isso não acontecia comigo há mais de 300 anos... - balbuciou o bruxo, já bem indisposto. 
     Depois de alguns minutos ele começou a ficar esverdeado, a diminuir de tamanho e  a modificar sua aparência...  Ao olhar para o espelho atrás do balcão o bruxo leva um tremendo susto.  Tinha se transformado num sapo; e de terno preto!!!


O sapo de terno prêto



- Foi ela!!!  Foi a bruxinha celta!  Arghrrrr.... - bufou ele de raiva.
     Stella a tudo observava pelo reflexo em seu copo. Riu disfarçadamente por um bom tempo mas aos poucos foi sendo tomada por uma sensação de culpa.
- Será que não exagerei?  Afinal, esse bruxo veio do longínquo oriente só prá me conhecer...  De repente, tadinho, ele desconhece as regras de abordagem do ocidente, mais rápidas, mais diretas... - pensou.
     Com a consciência pesada, a bruxinha se levanta, vai até o balcão e, com um tapa, joga o sapo para dentro de sua bolsa. Sai da cafeteria e se dirige, rapidamente, para a ala de vassouras voadoras do estacionamento.
- Tenho que ser rápida pois o sapo está ficando sem ar... - pensou, enquanto caminhava.
- Croach! Croach! (tradução: Me tirem daqui! Me tirem daqui!) - gritava o sapo desesperado de dentro da bolsa.
     Já no estacionamento, Stella resolve abrir a bolsa para deixar entrar um pouco de ar e, também, dar uma espiadinha em seu interior. E leva um susto!  O sapo estava cantarolando em latim dentro de seu caldeirãozinho, vestindo só uma tanguinha de lutador de sumô!
- O que é isso!!!??? - exclamou Stella, incrédula com a cena.
-Nunca viu um sapo tomar banho de ofurô, sua bruxa caipira?!  E fecha logo esta bolsa senão a água esfria, pô! - respondeu cinicamente o sapo.
-Sapo safado!  Eu preocupada e ele fica aí usando as minhas coisas dentro da bolsa! - esbravejou Stella enquanto andava na direção de sua vassoura voadora, ano 1487, placa de Santiago de Compostela.
   Distraída com o bate-boca, Stella não vê um quebra molas e tropeça, deixando sua bolsa cair e espalhar todo o conteúdo. Nessa, o sapo sai rolando e só pára quando se estatela na calota de um carro estacionado...
-Aaaaiiii, doeeeuuu!!!... - disse o sapo, ajeitando sua tanguinha de sumô.
-Você é abusado, heeein?  Tomando banho de ofurô no meu mini-caldeirão! - esbraveja Stella ao se aproximar do sapo.
-Abusado???  Eu???  Engraçado, eu paquero você com classe e estilo e você retribui me transformando num sapo?  Tá com TPM, é?  Vai catar coquinho na Nova Guiné, sua bruxa!!!  -  responde irritado o sapo.
     Stella, percebendo que realmente se excedera, pede desculpas e se propõe a quebrar o feitiço que fizera, transformando-o em homem novamente. Coloca, então, uma pílula desfeitiçante na boca do sapo e faz uma oração celta:

              "Piririm, pururuca, pupurica, pirurim, pirlimpimpim"

     O sapo, aos poucos, começa a crescer até se transformar em homem novamente.
- Puxa você estava me paquerando e eu te tratei mal...  Sabe, eu desconheço as regras da paquera oriental...  O que eu posso fazer para você não ficar com raiva de mim meu caro...  hammm...  como é mesmo o seu nome?  - pergunta Stella.
- Meu nome é Pequena Floresta, ou Bosquinho para os íntimos, e venho lá do oriente, onde nasci em 1240 DC... - responde o homem.
-Bosquinho?  Quá quá quá quá quá quá quá quá!   Que apelido mais esquisito!  - replica Stella, rindo descontroladamente.
-Eita, bruxa esquisita!  Fiz o favor de traduzir o meu nome do mongol arcaico para o português e ela me vem com gracinha... - pensa o bruxo.
-Olha, meu caro Bosquinho, convido-o, então, para tomar um suco de barbatana de tubarão com gelo e rodelas de gengibre numa lanchonete descolada aqui perto. Lá tem um sushi recheado com larvas de besouro e cauda de lagartixa que é uma delícia! Huummm... Frequento lá há mais de 83 anos...  Aceita?  -  diz Stella para tentar consertar todos os seus erros e gafes.
-Tá bom, aceito...  - responde Bosquinho, ansioso para provar o sushi.
-Vamos em qual vassoura voadora?  A minha ou a sua?  -  pergunta Stella.
-Pode ser na sua pois estou um pouco cansado... Você pilota bem?  -  replica Bosquinho, precavido como sempre foi.
-Lá vem ele de novo com seu machismo bruxístico...  -  resmunga Stella.  - Vamos na minha vassoura e pronto!!! - completa em tom decidido e desafiador.
     E saem os dois num lindo passeio noturno pelo céu paulistano. Stella pilotando velozmente sua vassoura na direção da lanchonete e Bosquinho, na garupa, suando frio e fazendo figa com as duas mãos...
-Lá está a lanchonete!  -  diz Stella depois de alguns minutos de vôo.
-Se aproxime com cuidado do estacionamento de vassouras voadoras, Stella...  O trânsito aéreo está intenso...  -  responde Bosquinho, preocupado com a aterrisagem.
  Stella, impetuosa, vai costurando pelo trânsito caótico de vassouras voadoras e quando já está próxima de uma vaga, a um metro do chão, leva uma fechada de uma outra vassoura, sendo obrigada a fazer uma manobra brusca para a direita. E, então... "Cabruuummmm"  Stella e Bosquinho se esborracham numa árvore, caindo ambos no chão gramado.
-Pô, é muito tombo para um dia só...  -  diz Bosquinho, ainda meio tonto.
-Quer ver esse bruxo machista começar a dar sermão sobre direção defensiva?  - resmunga alto Stella, já se preparando para brigar de novo com o  bruxo Bosquinho.


Stella, no momento da batida na árvore





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Nils Zen
Enviado por Nils Zen em 17/10/2009
Reeditado em 24/11/2009
Código do texto: T1872498
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