FURA BOLO...E MATA PIOLHO!

Relembrando...

Era meados de Janeiro dum ido qualquer, e as férias fluiam animadas num resort do interior de São Paulo.

E como todo resort que se preza, as atividades recreativas para a criançada era impecável, como não menos impecável prometia ser a educação dos filhos d'algumas "madames", que nitidamente entregavam (às bufadas silenciosas) seus filhinhos aos pobres monitores, na esperança de que lhes dessem alguma trégua das férias.

Mas...tal milagre me parecia ser impossível, embora milagre seja para essas coisas impossíveis mesmo.

Porém, depois de algumas crucificantes observações, a mim me restou apenas ratificar um texto que já escrevi aqui no recanto intitulado "aos vips do meu caderninho".

Mais que certo que resort é coisa pra gente...paciente, e que não espera muito do"outro", e também advirto, coisa pra gente bem jovem, porque educação mesmo é coisa de gente bem antiga.

Aliás, ali, uma das modalidades desportivas para se treinar era paciência...e se não fosse sonhar muito, a educação também.

Longe de ser um céu, lá circulavam alguns anjinhos, cujos capetas do desconhecido lhes instigavam a reinação.

Era humanamente impossível se tomar um solzinho da manhã ou observar a natureza do entorno a ouvir os pássaros, sem que eles nos trouxessem a piscina até o jardim.

"Cuidado meu querido, não molha a "titia", pula doutro lado!", uma bela, jovem e educada vovó lhe dizia sem sair do lugar...

Mas eu não sei o que há com os ouvidos das crianças de hoje em dia...

Alguns mais sociáveis até insistiam..."tia, quer mergulhar com a gente?", quando na verdade eu já me sentia mergulhada n'água e nela afogada há muito tempo.

Então eu esboçava um meio sorriso, e lhes dizia: "daqui um pouquinho, tá bom?", e continuava me esforçando para terminar a leitura do prefácio do meu livro, que eu já reiniciara por muitas vezes."Tia, um pouquinho já passou, agora vamos nadar?".

E assim seguia por todos os seguimentos daquele complexo, pelo ping-pong e pelo tênis, aonde as bolinhas eram mais difíceis de se encontrar do que uma agulha num palheiro...

No fitness, os pesos viravam bolas, e os aparelhos de musculação enormes estilingues.

Um perigo aquele resort, de fato.

Mas o auge do sufoco era mesmo no restaurante, às refeições principais.

Eu percebia o pavor na face dos garçons.Aquilo sim que é trabalho insalubre...e um tanto periculoso.

Certo dia, o líder da criançada traquina ( e alí me pus a imaginar que político já nasce pronto), anunciou em meio ao café da manhã " hoje vamos ajudar o garçon a trazer os pratos...e depois vamos comer todos os bolos!"

Não demorou muito para alguém encostar numa pilha deles... e a torre caprichada, longe de ser a de PIZZA, veio ao chão.

"FILHINHO VOCÊ SE MACHUCOU? DEIXA A MAMÃE VER...."

E não parou ali. Recuperados do susto e em fila indiana, esticavam os dedos indicadores, e começaram a provar furo por furo, todos os bolos da mesa, "ai, este é ruim!-"que gosto tem este,hein mãe?" e depois que limpavam os "fura-bolos" entre seus dentes...continuavam, desta vez a introduzi-los goela abaixo da madames mamães, "e este mãe, do que é?"- "este é de damasco, meu querido!"

Os monitores, totalmente reféns e impotentes, monitoravam aquele caos reinante, que nem os discursos milagrosos dos políticos davam mais jeito..."atenção, silencio crianças..."

Naquela manhã, perdi o apetite. Acho que aquele resort emagrece mais que SPA.

De miolos quentes e piolhos fritos, antes que os fura-bolos chegassem até nós, fechamos a conta do resort, pagamos a taxa de serviço com gosto (em homenagem a todos os funcionários daquele martírio), e então, fui ler meu livro no aconchego do meu lar...aliás, o melhor lugar do mundo para se tirar férias.

Até hoje quando ouço a palavra RESORT sinto que frito mais um piolho.