Mande seus demônios para...
Começamos o dia tentando mandar os nossos demônios para o inferno. É o melhor que temos a fazer depois de ouvir o presidente. Mal começa o sol a lançar raios envenenados e o laboratório da casa começa a funcionar. O mundo está mudando e devemos nos acostumar com isso. Depois do café confessamos nosso desejo de ver melhorar a arrecadação entre o amor dos amantes e as dificuldades práticas. É como se nessa hora sentíssemos o desafeto social longe das nossas entranhas. Bebericamos juntos e ouvimos pela televisão alguém solicitar vaga na Academia Brasileira de Letras.
Trata-se de matéria jornalística séria sobre os desejos humanos. O mendigo é abordado pelo jornalismo, e ao contrário de rogar ao mundo uma reforma nos andrajos, implora uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Podia ser esmola simples e natural, mas não. O que fazia aquele pobre infeliz na rua com papel e caneta? Estava mandando seus demônios para o inferno. É assim que se faz.
Mas o que é o inferno? O inferno é litígio. Qualquer litígio já merece indenização por parte do estado por ser infernal. A mão ilegível das trevas mora na parte forum de cada um. A princípio todos possuem a sua parte qualquer coisa. Virou moda e o inferno perdeu a graça.
No almoço, hora de começar a morder, sobra o confessionário. Essa mania de contar intimidade durante a alimentação não me comove, pelo contrário, libera o meu enxofre como se fosse almíscar ou patcholi. O desgraçado adolescente chegou diante de toda a família herdeira pedindo ao avô um direito especial. Direito de todos que murmuraram o quê mais evasivo do universo. O avô nada dizia por que dormia escandalosamente diante do programa fantástico desmoralizando a programação. O adolescente acne pedia para ser homossexual. Queria carta branca. Compreendemos o seu direito social, portanto merecia a tal carta.. Além de grandes risadas recebeu um pontapé no traseiro como "sim" vazio e sem consideração. Na verdade já navegava com o nome de Marilia pela internet, onde estas coisas são habituais.
Isso era lá “travestismo” desabafou o pai em completa ignorância sobre as coisas do mundo dos filhos. O melhor a fazer era condenar o diabinho a largar os estudos para se dedicar ao cinema. Deveria assistir por dez anos consecutivos o patético House. House, o vasculhador. House do choque entre moral humana do corpo e saúde na hora H da alma. Era a melhor maneira de mandar os seus demonios para o inferno.