MINEIRO ESTRESSADO É FICÇÃO
Enquanto Dona Mariquinha prepara o café, conversa com a comadre que lhe faz companhia na cozinha.
O marido, seu Licério, bate papo com o compadre na sala, com uma palha de milho na boca, picando fumo pra fazer um cigarro.
Mariquinha, de propósito, fala alto pro marido escutar lá na sala.
___Cê vê cumadi, comu é dura a minha sina! Casei cum ómi imprestávi! Levanto as cinco da madrugada, preparo o armoço pro infeliz levá pra roça e, cadê de i trabaiá!
É um ómi imprestávi!
A comadre só escuta!
De vez em quando faz:
___Hum, hum!...
Seu Licério já na casa dos 50 anos, é proprietário de diversos sítios, fruto de muito trabalho, mas a Mariquinha não quer nem saber.
Acorda de madrugada, prepara o caldeirãozinho de comida e inferniza o marido pra que vá pra roça.
Depois de uma meia hora de tanto falatório da Mariquinha, o compadre visitante faz um comentário no pé do ouvido do seu Licério:
___Cumpadi, mi perdoa por dizê uma coisa dessa, mais comu é qui o sinhor aguenta tanta impricação? Si, Deus mi livre, eu fossi o marido da cumadi Mariquinha, num ia aguentá! Eu pegava ela pelu cabelo, arrastava a infiliz até o terreiro, pisava no seu pescoço i apricava uma surra di cinta nela!
E finalizou:
___Cumpadi, cumé qui o sinhôr aguenta tudo isso?
Em silêncio, seu Licério passa o fumo e o canivete pro compadre. Depois acende o cigarro, dá umas pitadas com gosto, olha cauteloso pra cozinha e confidencia:
___I u sinhor acha qui iscutei arguma coisa du que a Mariquinha disse? Cumpadi, inquanto ela fala eu firmo u pensamentu nus lambari do rabo vermeio qui tem lá nu riberão do sítio ondi vô pescá mais tardi!
Qué i cumigo, cumpadi?!