Gorrorrobá di bandejõn

A minha "estomagologista" me perguntou desde quando eu sofria de gastrite. Depois de pensar um pouco, me dei conta de que essa coisa vinha desde os tempos da faculdade. Também pudera.

O restaurante universitário -- nome eufemístico pro popular bandejão -- da UnB era como todos os outros. Servia uma gororoba frequentemente inidentificável, fosse pela aparência, fosse pelo cheiro ou sabor. Aliás, foi lá que aprendi o significado da palavra "iguaria" -- a comida ali servida era sempre igual... a que, prefiro nem dizer. E por mais que eles se esforçassem por dar nomes bonitos aos pratos, a rapaziada não deixava por menos e rebatizava todos.

Por exemplo, o bife acebolado virava bife detetive -- duro, frio e com nervos de aço.

O suflê de chuchu, pela aparência um tanto duvidosa, virava suflê de quelque chose.

O pudim da sobremesa, pela cor e sabor, se tornava pudã misterieuse.

Mas teve um dia em que o responsável pelo cardápio, provavelmente num rasgo de humor irônico, colocou lá no menu da entrada -- peixe ao molho de camarão.

Cada veterano habituê do lugar que entrava e lia aquilo ali, passado o primeiro assombro, caía na gargalhada! Ou teria acontecido um milagre, ou alguém tava de gozação com os pobres estudantes esfomeados. E, claro, fomos sem demora verificar com nossos próprios olhos, narizes, bocas e estômagos aquela novidade.

Você, amigo leitor, encontrou algum vestígio que fosse de camarão naquele peixe de procedência e aparência desconhecidas? Nós também não. Nem mesmo o cheiro do dito cujo.

Quando eu ia saindo, depois de degustar o prato piadista, vi que um gaiato tinha pregado ao lado do menu um papel onde se lia em letras garrafais -- UM FUSCÃO PRA QUEM ENCONTRAR UM CAMARÃO!

Pois é, só mesmo com muita risada é que a gente podia digerir aquela irônica gororoba. Que, afinal de contas, nutria com perfeição o nosso inabalável senso de humor.

*

Sobre o tema "comida trrré chique", leia a crônica da colega Vany Grizante - "Culinária Avançada: a cozinha internacional", que está simplesmente sen-sa-cio-nal!

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 23/09/2009
Reeditado em 28/03/2010
Código do texto: T1826189
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