SONHOS REPETITIVOS

Desde criança que tenho um sonho repetitivo de no mínimo duas vezes em cada mes. Eu morava na roça, onde nem via passar avião, mas já sonhava sempre, com eles caindo entre os montes ou sobre as lavouras de café. A primeira vez que voei eu tinha 28 anos, foi de Vitória a Ilhéus e causou-me decepção, pois lá em cima parecia que estava tudo parado.

Na verdade, apesar dos sonhos, nunca tive medos absurdos de viajar, pois nesses sonhos eu nunca estou no avião, apenas os vejo caindo, ora explodindo ou em quedas mais leves, onde às vezes vou dar socorro às vítimas.

Esta noite, 11 de setembro, sonhei novamente com uma queda fantástica de um boing sobre os prédios da nossa linda capital.

Ao acordar, lembrei-me de uma viagem que fiz de Vitória/ Belo Horizonte em 1993, num pequeno avião de 25 passageiros, um jatinho da bandeirantes, aquele que quando você embarca, é passageiro e quando desembarca, é sobrevivente.

Na ida tudo normal, com o avião praticamente vazio, e como eu precisava voltar no mesmo dia, a volta foi às 18 horas, desta feita com lotação completa. Confesso que nunca havia ficado tão "alto" com apenas uma dose de Whisky.

Tudo corria bem, ou melhor, voava bem, até que na hora de pousarmos, o piloto informa que o trem de pouso não queria descer e ficamos então voando em círculo sobre a cidade de Vitória.

O procedimento seria para esperar pelo ainda possível acionamento do trem de pouso e, ao mesmo tempo consumir todo o combustível para um provável pouso de barriga sobre colchões de espuma. De arrepiar...

Nessas "alturas" eu já estava preparando meu discurso para São Pedro. Na época eu era Deputado Estadual e restava-me apenas usar a palavra, se bem que sempre achei que politicos tem um lugar especial no céu, pois são eles que dedicam suas vidas em prol do bem estar do povo, especialmente dos mais carentes, vide propaganda eleitoral.

Mas, voltando ao Vôo, eu sentia meu corpo gelado e ao mesmo tempo fervendo de nervosismo naquela aeronave cheia de homens, nem aeromoça tinha, apenas um comissário de bordo, que me perguntou :

Moço, o senhor está com falta de ar?, respondi:= não filho, estou com falta de terra... e, ainda, chateado só em pensar que poderia morrer assim tão mal acompanhado.

Nesse momento eu já antevia todo o povo do Espirito Santo em comoção chorando por ver cair um avião e morrer apenas um único deputado.

Pensava na minha família, meus filhos, minha esposa, irmãos, amigos e claro em meus eleitores. Queria sugerir ao piloto um pouso nas areias da praia de Camburi, o que seria ainda pior, imaginem, voar, voar e morrer na praia...

Mas, enfim, graças a Deus, o trem de pouso funcionou e eu estou até hoje comemorando aquela linda aterrissagem.

Modéstia à parte, mas acho que fui eu quem salvou a todos, já que político é duro de morrer, nem mesmo de aids, já que muitos não pegam, por terem o rabo preso..

Hoje, não sou mais politico, moro na Barra do Jucu, Vila Velha, ES, ao lado de um aeroclube e todos os dias aviões passam por cima de minha casa e, confesso, tenho medo que caia algum em minha cabeça e aí, nem poderei contar a história...

Até mais, e bons sonhos...