É perigoso tentar consertar!...
De veia humorista e irreverente desde criança, aprecio pessoas que exercem o seu bom humor no seu dia-a-dia, até mesmo em situações estressantes. Às vezes, uma tirada engraçada, um dito chistoso, uma piada criativa podem até melhorar um ambiente carregado de irritação e impaciência.
Em 1975, fui receber as chaves da minha primeira casa própria pelo Sistema Financeiro de Habitação, recém-criado com os recursos do FGTS. Era um conjunto de 1.400 casas e quase todo mutuário contemplado estava lá, numa escola pública de São Luís, impaciente, doido para pôr as suas mãos na bendita chave.
Apenas duas funcionárias da COHAB atendiam os mutuários, em fila única, que começava no pátio da escola e, subindo por uma escadaria, alcançava o segundo pavimento da escola, onde as atendentes se instalaram com as chaves e os documentos necessários ao seu recebimento.
Foi chegando mais gente e, de repente, verificou-se que o fim da fila estava quase paralelo com o seu início, formando praticamente duas filas, só que uma mais perto, outra mais distante do atendimento. Eu, contra os meus hábitos, havia chegado já muito tarde àquele local e estava, portanto, lá no fim da fila, mas bem próximo da mesa de atendimento. Mais atrás, um sujeito cabeludão, de camiseta, tremendo medalhão no peito, tipo hippie, examinou rapidamente a situação e falou para mim:
- Ô mermão, vamos ficar de frente pra mesa?
Eu entendi a jogada do malucão e virei de frente. Vendo isso, todas as outras pessoas do fim da fila e que estavam por perto de nós, se viraram também de frente para a mesa e, de repente, ficaram duas filas de frente para a mesa de atendimento. As funcionárias ficaram supresas com a súbita mudança:
- Duas filas, que negócio é esse?
O malucão respondeu:
- Qualé, meu docinho, vocês não são duas? Então, fica uma fila pra cada uma!
Uma delas gritou:
- Dona Lúcia, por favor, venha aqui!
Veio a Dona Lúcia e a atendente explicou:
- Era uma fila única, agora sem mais nem menos organizaram duas filas!
Dona Lúcia quase deu um chilique e esbravejou:
- Não pode, não pode! Ou voltam a fazer fila única ou chamo a polícia, paro tudo!
O malucão ponderou, mansamente:
- Olha, neném, por favor, não tenta consertar nada. Olha só: há dois mil anos veio um cara aí querendo consertar tudo. Meteram o cacete no coitado e ainda o pregaram numa cruz. E o cara era o filho do Homem, imagine! Deixa correr frouxo, neném, é menos perigoso...
Estourou uma gargalhada geral. E, pasmem, até a brava Dona Lúcia riu!
E como o entrevero já causara tamanha balbúrdia que já não se sabia ao certo quem chegara antes e quem chegara depois, as duas filas passaram a ser atendidas. Numa boa.
De veia humorista e irreverente desde criança, aprecio pessoas que exercem o seu bom humor no seu dia-a-dia, até mesmo em situações estressantes. Às vezes, uma tirada engraçada, um dito chistoso, uma piada criativa podem até melhorar um ambiente carregado de irritação e impaciência.
Em 1975, fui receber as chaves da minha primeira casa própria pelo Sistema Financeiro de Habitação, recém-criado com os recursos do FGTS. Era um conjunto de 1.400 casas e quase todo mutuário contemplado estava lá, numa escola pública de São Luís, impaciente, doido para pôr as suas mãos na bendita chave.
Apenas duas funcionárias da COHAB atendiam os mutuários, em fila única, que começava no pátio da escola e, subindo por uma escadaria, alcançava o segundo pavimento da escola, onde as atendentes se instalaram com as chaves e os documentos necessários ao seu recebimento.
Foi chegando mais gente e, de repente, verificou-se que o fim da fila estava quase paralelo com o seu início, formando praticamente duas filas, só que uma mais perto, outra mais distante do atendimento. Eu, contra os meus hábitos, havia chegado já muito tarde àquele local e estava, portanto, lá no fim da fila, mas bem próximo da mesa de atendimento. Mais atrás, um sujeito cabeludão, de camiseta, tremendo medalhão no peito, tipo hippie, examinou rapidamente a situação e falou para mim:
- Ô mermão, vamos ficar de frente pra mesa?
Eu entendi a jogada do malucão e virei de frente. Vendo isso, todas as outras pessoas do fim da fila e que estavam por perto de nós, se viraram também de frente para a mesa e, de repente, ficaram duas filas de frente para a mesa de atendimento. As funcionárias ficaram supresas com a súbita mudança:
- Duas filas, que negócio é esse?
O malucão respondeu:
- Qualé, meu docinho, vocês não são duas? Então, fica uma fila pra cada uma!
Uma delas gritou:
- Dona Lúcia, por favor, venha aqui!
Veio a Dona Lúcia e a atendente explicou:
- Era uma fila única, agora sem mais nem menos organizaram duas filas!
Dona Lúcia quase deu um chilique e esbravejou:
- Não pode, não pode! Ou voltam a fazer fila única ou chamo a polícia, paro tudo!
O malucão ponderou, mansamente:
- Olha, neném, por favor, não tenta consertar nada. Olha só: há dois mil anos veio um cara aí querendo consertar tudo. Meteram o cacete no coitado e ainda o pregaram numa cruz. E o cara era o filho do Homem, imagine! Deixa correr frouxo, neném, é menos perigoso...
Estourou uma gargalhada geral. E, pasmem, até a brava Dona Lúcia riu!
E como o entrevero já causara tamanha balbúrdia que já não se sabia ao certo quem chegara antes e quem chegara depois, as duas filas passaram a ser atendidas. Numa boa.