Ética de bêbado
Vocês sabem o que é um bêbado-bosta ? É o cara que, quando bebe, se embriaga sempre, e, quando se embriaga, aporrinha todo mundo. Eu já fui um deles...
A conduta ética-moral dos paus d'água só é impecável até o 3º gole de cachaça ou até a meia dúzia de cervejas. A partir daí, amigos, eu lhes garanto, todos os bons propósitos de comportar-se como "gente grande" vão por goela abaixo, juntamente com a água que passarinho não bebe.
Quando eu era funcionário do BB, na cidade de Codó, interior do Maranhão, década de 60, costumava frequentar religiosamente, geralmente às sextas-feiras, o cabaré de Dona Maria. O lupanar era animado por uma orquestra tradicional e o sinal de largada para a dança e para a putaria era dado às 22:00 horas. Nas sextas, eu chegava sempre antes dessa hora, impecavelmente vestido, sóbrio, compenetrado, imponente mesmo, e procurava a Dona Maria:
- Dona Maria, o negócio é o seguinte: quero uma mesa lá no fundo, bem discreta mesmo. Quero ser notado o mínimo possível!
Nesse tempo, as pessoas mais importantes em qualquer cidadezinha interiorana eram, pela ordem: o prefeito, o padre, o delegado e os funcionários do Banco do Brasil, estes em virtude dos seus bons salários que injetavam substanciais recursos na economia local, inclusive nos bares e cabarés da cidade. Portanto, Dona Maria sempre se demonstrava extremamente prestativa e procurava acomodar-me numa das mesas menos visíveis do salão. E foi assim numa determinada sexta-feira.
Veio a primeira cerveja, eu a sorvi rápido, e continuei compenetrado e discretamente sentado à mesa. Depois da segunda cerveja, já raciocinei assim: "Com mil diabos, se estou num puteiro é para a putaria e não para rezar". Então, levantei-me, escolhi a mais simpática - porque não havia chegado ainda uma mais bonita - das "meninas de Dona Maria" e a levei para a minha mesa.
A quarta cerveja despertou os meus talentos de "pé de valsa" - que quando me encharcava de bebida eu "achava" que tinha - e lá fui eu, lépido e fagueiro, rodopiando com o meu par pelo salão, para provar para todos aqueles cretinos ali presentes que eu era "o bom" em sambas, boleros, tangos, valsas e o mais que viesse.
Na quinta cerveja eu já tinha vislumbrado uma "menina" bem mais jeitosinha do que aquela que estava na minha mesa e já tinha decidido que iria ficar com ela, apesar de o cara que a acompanhava ter um braço mais grosso que o meu pescoço.
Na sexta cerveja, já com a camisa toda desabotoada, eu gritei por Dona Maria, que já veio preocupada, dada a minha fama de bêbado arruaceiro:
- Que foi, seu Antonio?
- Dona Maria, me arranje uma mesa lá na frente, bem perto da orquestra!
- Mas, seu Antonio, o senhor me pediu para lhe arranjar uma mesa bem escondida, bem discreta... Qualquer pessoa ficaria satisfeita com esta mesa.
- Meu nome não é Qualquer Pessoa! Meu nome é Antonio Maria Santiago Cabral, funcionário do Banco do Brasil, por concurso público, que bebe com seu dinheiro e que ninguém tem nada a ver com isso! Não tenho que me esconder de ninguém! Dê-me uma mesa lá na frente, bem perto da orquestra, senhora! Eu estou pagando!
E a pobre da Dona Maria, que venderia a alma ao diabo para não perder um cliente capaz de gastar todo o salário do mês numa única noitada, operou um verdadeiro milagre para me arranjar a mesa exigida com o salão já totalmente cheio.
E, na sétima cerveja, com as lamparinas do meu juízo já totalmente apagadas, eu me levantei para tirar para dançar - na marra - a "menina" que me agradara e que estava acompanhada do cara que tinha o braço mais grosso que o meu pescoço...
Quando o pau quebrou, quem seria capaz de imaginar que o sujeito que iniciou todo o tumulto era aquele cavalheiro sério e compenetrado que, às 22:00 horas, sentou-se na mesa mais discreta do cabaré, disposto a manter-se totalmente anônimo naquele local?
Nota do autor:
Se você tem problemas com o uso abusivo ou descontrolado de bebidas alcoólicas, busque ajuda junto ao A.A.(Alcoólicos Anônimos)
Tel: (11)3315-9333/ e-mail:aa@alcoolicosanonimos.org.br
Vocês sabem o que é um bêbado-bosta ? É o cara que, quando bebe, se embriaga sempre, e, quando se embriaga, aporrinha todo mundo. Eu já fui um deles...
A conduta ética-moral dos paus d'água só é impecável até o 3º gole de cachaça ou até a meia dúzia de cervejas. A partir daí, amigos, eu lhes garanto, todos os bons propósitos de comportar-se como "gente grande" vão por goela abaixo, juntamente com a água que passarinho não bebe.
Quando eu era funcionário do BB, na cidade de Codó, interior do Maranhão, década de 60, costumava frequentar religiosamente, geralmente às sextas-feiras, o cabaré de Dona Maria. O lupanar era animado por uma orquestra tradicional e o sinal de largada para a dança e para a putaria era dado às 22:00 horas. Nas sextas, eu chegava sempre antes dessa hora, impecavelmente vestido, sóbrio, compenetrado, imponente mesmo, e procurava a Dona Maria:
- Dona Maria, o negócio é o seguinte: quero uma mesa lá no fundo, bem discreta mesmo. Quero ser notado o mínimo possível!
Nesse tempo, as pessoas mais importantes em qualquer cidadezinha interiorana eram, pela ordem: o prefeito, o padre, o delegado e os funcionários do Banco do Brasil, estes em virtude dos seus bons salários que injetavam substanciais recursos na economia local, inclusive nos bares e cabarés da cidade. Portanto, Dona Maria sempre se demonstrava extremamente prestativa e procurava acomodar-me numa das mesas menos visíveis do salão. E foi assim numa determinada sexta-feira.
Veio a primeira cerveja, eu a sorvi rápido, e continuei compenetrado e discretamente sentado à mesa. Depois da segunda cerveja, já raciocinei assim: "Com mil diabos, se estou num puteiro é para a putaria e não para rezar". Então, levantei-me, escolhi a mais simpática - porque não havia chegado ainda uma mais bonita - das "meninas de Dona Maria" e a levei para a minha mesa.
A quarta cerveja despertou os meus talentos de "pé de valsa" - que quando me encharcava de bebida eu "achava" que tinha - e lá fui eu, lépido e fagueiro, rodopiando com o meu par pelo salão, para provar para todos aqueles cretinos ali presentes que eu era "o bom" em sambas, boleros, tangos, valsas e o mais que viesse.
Na quinta cerveja eu já tinha vislumbrado uma "menina" bem mais jeitosinha do que aquela que estava na minha mesa e já tinha decidido que iria ficar com ela, apesar de o cara que a acompanhava ter um braço mais grosso que o meu pescoço.
Na sexta cerveja, já com a camisa toda desabotoada, eu gritei por Dona Maria, que já veio preocupada, dada a minha fama de bêbado arruaceiro:
- Que foi, seu Antonio?
- Dona Maria, me arranje uma mesa lá na frente, bem perto da orquestra!
- Mas, seu Antonio, o senhor me pediu para lhe arranjar uma mesa bem escondida, bem discreta... Qualquer pessoa ficaria satisfeita com esta mesa.
- Meu nome não é Qualquer Pessoa! Meu nome é Antonio Maria Santiago Cabral, funcionário do Banco do Brasil, por concurso público, que bebe com seu dinheiro e que ninguém tem nada a ver com isso! Não tenho que me esconder de ninguém! Dê-me uma mesa lá na frente, bem perto da orquestra, senhora! Eu estou pagando!
E a pobre da Dona Maria, que venderia a alma ao diabo para não perder um cliente capaz de gastar todo o salário do mês numa única noitada, operou um verdadeiro milagre para me arranjar a mesa exigida com o salão já totalmente cheio.
E, na sétima cerveja, com as lamparinas do meu juízo já totalmente apagadas, eu me levantei para tirar para dançar - na marra - a "menina" que me agradara e que estava acompanhada do cara que tinha o braço mais grosso que o meu pescoço...
Quando o pau quebrou, quem seria capaz de imaginar que o sujeito que iniciou todo o tumulto era aquele cavalheiro sério e compenetrado que, às 22:00 horas, sentou-se na mesa mais discreta do cabaré, disposto a manter-se totalmente anônimo naquele local?
Nota do autor:
Se você tem problemas com o uso abusivo ou descontrolado de bebidas alcoólicas, busque ajuda junto ao A.A.(Alcoólicos Anônimos)
Tel: (11)3315-9333/ e-mail:aa@alcoolicosanonimos.org.br