Parentes próximos
Havia na selva um macaco que invejava tremendamente outro macaco, por este ser o mais habilidoso no salto em árvores, o mais querido pelas fêmeas e o mais respeitado pelos machos.O invejoso estava cansado de ser considerado o mais desajeitado e menos carismático da macacada e em um dia inspirado tomou a decisão de imitar o macaco mais popular em tudo, incluindo atitudes, expressões faciais, forma de se locomover e etc.
Para tanto, o desesperado primata seguia o outro para qualquer lugar que ele ia e prestava uma atenção absoluta na maneira de ser do invejado, a fim de melhor poder imitá-lo. Um dia o macaco habilidoso cansado daquela perseguição, inquiriu o seu imitador, desejando saber qual motivo daquele extravagante acompanhamento.
O imitador disse que estava tentando aprender ser um macaco elegante e querido ,como o seu interlocutor, e para realizar tal tarefa com êxito era necessário copiar a sua maneira de ser nos mínimos detalhes. O imitado respondeu que todos tinham seus problemas, que imitar alguém não era algo inteligente e que ele mesmo se tinha muitos admiradores e alegrias, possuía também muitos inimigos e dissabores.
O macaco invejoso julgou que tal pregação era um artifício do macaco astro,com o objetivo de não ter concorrência no posto de macaco mais querido da floresta e não desistiu do processo imitativo.
Com o tempo, a cópia do original estava quase perfeita, se não fosse por um detalhe: o salto, que o imitador só realizava com extrema imperfeição.
Em um dia agourantemente cinzento, o macaco insastifeito procurou o seu modelo e não o encontrou. Voltando para a Praça Central da macacada, encontrou uma femêa, de todas macacas da selva, a mais interessante. Ela confundiu-o com o outro e ambos fizeram amor, encomendando uma ninhada de macaquinhos. Em seguida, o mesmo primo nosso, foi recebido entusiasticamente pelos outros macacos, o que o encheu de orgulho, mesmo sabendo que tanto carinho era para outro.
Depois de tanto sucesso, o macaco invejoso sentiu-se realizado e para curtir sozinho tanta felicidade se isolou na mata fechada. Foi aí que o destino bateu na porta, na forma de um leão que odiava o verdadeiro macaco popular. Sem perder tempo, o tirano da selva irrompeu contra o pobre macaquinho que só tinha opção de correr. Encurralado, entre uma grossa camada de árvores centenárias e o feroz predador, somente se salvaria se pudesse realizar um salto competente, para se refugiar no topo da árvore.
Mas eis que o salto do nosso herói revela-se um completo fiasco, com o macaco fugitivo chocando a cara no meio do tronco de uma árvore. Em seguida o leão almoçou tranquilamente.
Uma coruja que observou todos os acontecimentos acima narrados refletiu e concluiu que todo o ocorrido se assemelha a um fábula tosca, mal escrita e convencional ao extremo, deixando a impressão que a realidade vivida pelos bichos na selva era uma construção de uma mente confusa, talvez um escritor desocupado e sem talento. O que por outro lado pode ser positivo, uma vez que se toda realidade vivida por eles for ficção, certamente a morte, as rivalidades, as doenças e tudo mais de negativo também é, o que tranquiliza mentes sábias e filosóficas.