A LEI ANTIFUMO

Antes de mais nada, eu explico o título: Estou falando do tabagismo, e não do fumo que os brasileiros levamos diariamente na forma de cobrança de impostos. Esse fumo seria mais bem representado por um jegue bem nortdestino do que pelo africano e nobre LEÃO da Receita Federal.

Explicado o título, vamos ao texto. Escrevo-o para manifestar dois desejos: O primeiro é que não seja proibido fumar em certos ambientes só no estado de São Paulo, mas sim em todo o território tupiniquim. O segundo desejo é que não se limite ao hábito de fumar; seja a lei estendida ao ato de peidar e de bufar. Uma explicação: PEIDAR é soltar os gases com alarido sonoro. BUFAR é fazer a liberação com certo controle do esfíncter (a prega rainha do "..""). Então o PEIDO (optante do simples) sai assim: fffuuuuu. Quase ninguém escuta. O risco é mínmo. Mas em compensação a catinga¹ (o fedor, o aroma desagradável, o "odor", o "olor") é muito mais forte. Além do que, a bufa é calada, não avisa a ninguém a tempo de as vítimas fazerem aquele gesto de tampar a venta com o braço ou com a mão.

A vítima geralmente (pelo menos no Ceará) tem uma interjeição para o momento em que seu nariz é atingido por alguma catinga forte e repentina: "FUM!".

Imagine um cara dentro de um ônibus lotado, com ar condicionado e os vidros todos fehados. Se alguém soltar um peido, dá tempo abrir alguma janela. Mas se for uma bufa, só dará tempo alguém engüiar² (pronuncie o U como na palavra CONLUIAR) e morrer na podridão.

Voltemos ao raciocínio. Você vai dentro de um sedã com o motorista e quatro passageiros. O veículo está hermeticamente fechado, por causa do condicionador de ar. Você vai no meio do banco de trás. Sua mão não alcança a maçaneta ou o botão elétrico de abrir o vidro da janela. Mesmo que alcance, você não poderá fazer esse gesto sem chamar a atenção do cara que vai na janela. Você no corredor cercado por dois camaradas nas janelas. Se um deles solta um preso, digo, um peido, você está lascado. Se for uma bufa, torça para que o fedor chegue primeiro na venta do cara que vai na janela oposta à sua, mas essa possibilidade é bem remota.

Há duas teorias sobre quem sente primeiro um peido ou uma bufa. A primeira diz que o cara que solta a coisa não é o primeiro que sente (às vezes nem sente, segundo essa teoria). A segunda diz: "Quem primeiro sentiu, daí saiu". Penso que a universidade de Harvard ainda não realizou qualquer estudo sobre a teoria, nem há tese de doutorado ou estudo com o rigor da metodologia cinetífica determinando quem é que sente primeiro.

Mas nem precisa de tese, nem de teoria de Oxford. Precisamos é de uma lei anti-peido e anti-bufa. É proibido bufar e peidar nos mesmos tipos de ambiente onde o vício do tabaco é proibido. Em tem de ser em todo o território nacional, não somente em São Paulo. Principalmente no nordeste, terra da buchada, do sarapatel, do acarajé e do vatapá, da feijoada, da farinha e da rapadura. Não é, meu rei? "É, meu bichin!". "Pois é, seu cabra da gota serena".

Dizem que peidar e bufar são uma necessidade para o dono do intestino podre. Mas eu já vi algo que diz o seguinte: Na China, quem peida (ou bufa) está doente. E se o peido ou a bufa manifestar alguma catinga (fedor), então a doença é grave.

Para finalizar, eu revelo a fonte de inspiração: Eu ia num táxi (dividido com mais três passageiros) para Fortaleza e alguém disparou um torpeido, ou melhor, uma sutil e silenciosa bufa (o peido com SILENCIOSO). Eu estava na janela, mas quando apertei o botão que aciona o vidro da janela (o carro tinha ar condicionado) não funcionou, a janela ficou fechada, e eu tive que fazer o gesto de tampar o nariz, com discrição para não ser mal-educado. Segurei até o EN-GÚI-O.

É nisso que dá excesso de educação. Eu nem podia exclamar "FUM!", pois ainda seria mais indiscreto. O dono do intestino doente foi discreto: Apertou o esfíncter e transfornou o estrondoso peido numa "inocente" bufinha. Mas aí, discrição pode ser fatal.

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(¹) Catinga, aqui no Ceará, não se refere só a "suvaco" fedorento, não. Refere-se a qualquer tipo de fedor. Catinga de merda, catinga de chiqueiro, catinga de mijo, catinga de chulé (pleonasmo).

(²) O verbo engüiar não existe no dicionário. Só seria possível escrevê-lo se houvesse uma letra do jeito do C (encuiar) com som de GUÊ. Então pronununcie as formas rizotônicas com um ditongo crescente (en-gúi) e um hiato (ar). EN-GÚI-AR. É só pegar como modelo o verbo conluiar e trocar o L por G de gato. O coitado do verbo, pra ficar mais debochado, ainda é pronunciado com "I" (IN-GÚI-AR). A forma IN-GÚI-EI ainda é mais esquisita. Mas esse verbo, que não tem a honra de constar dos AURÉLIOS, MICHAELIS ou HOUAISS, tem o doce privilégio de estar na fala dos cearenses, ou pelo menos dos juazeirenses de Juazeiro do Norte. Lá na Bahia também deve ter o verbo EN-GÚI-AR, com "I" na fala, pois na escrita ele é igual ao tupi-guarani: Não existe.

OBS: Antes que algum nordestino queira denunciar-me por discriminação intestinal e culinária, vou logo avisando: SOU NORDESTINO, DA TERRA DO MEU PADIM CIÇO, JUAZEIRO DO NORTE, NO SUL DO CEARÁ, NA REGIÃO ONDE FICAVA A TRIBO DOS CARIRIS. PORTANTO, SE ESTOU DISCRIMINANDO, SOU AUTO-DISCRIMINADO TAMBÉM.

António Fernando
Enviado por António Fernando em 16/08/2009
Código do texto: T1756878
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