O ESTUPRO.


     Esse causo, verídico, diga-se de passagem, aconteceu na cidadezinha de Carmo do Paranaíba, no oeste das Alterosas, onde o Delegado da cidade, amigo de longa data, me chamou para passar as férias. Ao final do segundo dia, resolvemos, à tardinha, para a beira do rio ir, juntamente com mais dois de seus compadres. A intenção era pegar alguns peixes; já no rio, a pescaria estava animada, (se é que podemos chamar uma mesa de truco, tendo ao lado uma churrasqueira portátil, repleta de carne “gordurenta”, um litro da genuína pinga da roça e cervejas “estupidamente” geladas), de pescaria, talvez, “pingaria”, fosse mais entendível.

     Em meio à animada "pingaria", avistamos vindo em nossa direção, um carro nas cores da Polícia, meu amigo Delegado logo disse: “lá vem merda”. Assim que chegou em sua viatura, o policial desceu e se dirigiu ao chefe dizendo: “temos uma ocorrência na Delegacia, e a sua presença é necessária”. “O que aconteceu”? Procurou saber, “suposta tentativa de estupro”, respondeu-lhe o policial. “Você quer ir comigo? Não devo demorar”, disse-me. Logo, estávamos de volta à cidade em direção à “Estação de Polícia”, como diziam os moradores da região.

     Ao adentrarmos o gabinete do Delegado, reparei um rapaz, de mais ou menos 20 anos, algemado e sentado em uma cadeira de madeira, tendo ao lado a companhia de um policial. Do outro lado da sala, bem a sua frente, uma mocinha, morena de olhos castanhos claros, não mais que 17 anos. Seus semblantes, apesar da pouca idade, já exibiam os sinais da difícil vida no campo, na lida nas fazendas. “O que foi que aconteceu minha jovem”? Perguntou-lhe o Delegado. “É esse Zinho aí”, respondeu a mocinha, apontando para o rapaz. “Ele tentou lhe molestar”? “Hein?” Respondeu indagando a moça. “Ele tentou um coito forçado com você”? Reformulou a pergunta. “Num sei que qui é isso não sinhô”. Respondeu novamente a mocinha. “Ele tentou lhe penetrar”... “Peraí dotô”, interrompeu a moça. “Num é caso de facada não sinhô”. “Esse fidumaegua, pegou esse pinto comprido dele, e enfiou na minha perereca”...

JLeal
Enviado por JLeal em 08/08/2009
Reeditado em 03/09/2023
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