NUNCA FUI DE PARAR O TRÂNSITO...
Algumas pessoas se caracterizam pelo inusitado.
Ou são belas demais, diferentes demais, inteligentes demais , detalhistas demais, chatas demais, agradáveis demais ...ou atrapalhadas demais. Enfim, uma vasta lista de adjetivos que todos podemos desfrutar, em escala maior ou menor.
Por conta da minha autoavaliação, nunca estive entre as "mais- mais" em nada , porém ultimamente, talvez já me enquadre naquele último adjetivo da minha listinha.
Então, há não muito tempo atrás, precisava ir urgentemente ao centro da cidade, nas imediações da vinte e cinco de março, aquela conhecidíssima "muvuca de sempre".
Resolvi que iria de Metrô.
Confesso que, apesar de ser "paulistana da gema" não sei muito ir ao centro da cidade de carro e afinal, o Metrô está aí para nos facilitar a vida.
Era o que eu achava.
Aliás, que empresa de ponta o nosso METRÔ de São Paulo!
E vocês hão de concordar comigo depois da história que tenho a lhes contar.
Naquela época, eu usava uma pequena bolsa de mulher tipo mochila, a pendurava nas costas, e numa praticidade irrefutável, andava para cá e para lá, sem me dar conta dos furtos.
Porém, naquele dia, achei perigoso pendurar a tal mochila nas costas e assim que o trem se aproximou na plataforma, resolvi dependura´-la num dos meus dedos da mão, através dum passante feito para tal.
Na hora de entrar no vagão, naquele formigueiro de gente, alguém em mim se esbarrou, me deu um tranco, meu dedo se esticou e a bolsa...caiu lá embaixo...é, nos trilhos!
"Chuá!"- foi o que me deu tempo de ouvir.
Não acreditei naquilo!
Olhei através do estreito vão entre a plataforma e o vagão e... nada! Tudo bem escuro, em meio àquelas águas pluviais que correm por sob os trens...e minha bolsa provavelmente boiando, com todos os meus documentos.
No dia anterior tinha renovado o passaporte e até ele estava lá ,eu esquecera de guardá-lo em casa.
Que tinha água por alí nos trilhos, eu só aprendi naquele dia..depois daquele "chuá'.
Antes que o vagão saísse falei rapidamente com o funcionário da plataforma -"moço, minha bolsa tá lá embaixo!"- que me pediu para avisar o maquinista.
Lá fui eu correndo até a máquina da frente, grudei meu rosto no vidro da janela, tentei gesticular algo, e decerto que assustei o maquinista boquiaberto, quando logo depois lhe gritei:
-Senhor , por favor, socorro!, meus documentos estão todos lá embaixo, nos trilhos...será que teria como pegá-los para mim?
Parecia piada, mas não era, não.
Pediu que eu ficasse calma, e aguardasse.
Curioso.Nenhum outro trem apareceu mais por lá, até que eles resgatassem minha mochila sã e salva do tal episódio.
"Moço cuidado, volta aqui, o senhor vai ser atropelado!"
Sabe o que fizeram?
"Deseletrifricaram" os trilhos, pararam tudo!, e um esperto funcionário desceu, "pescou", e me trouxe a bolsa aos pingos...bem cansada daquela guerra.
-Pronto senhora, a sua bolsa, está mais calma agora? Vamos tomar um suco para a senhora se acalmar um pouco.
E me acompanhou até uma lanchonete, já na saída do METRÔ.
-Já estou bem, muito obrigada.
Abri a bolsa crente que naquela exurrada subterrânea havia perdido tudo..
Absolutamente...tudo seco e intacto. De fato, um grande milagre.
Contei a história a poucos, e hoje resolvi colocá-la aqui, também com o intuito de parabenizar e mais uma vez agradecer pelo atendimento a mim prestado pelos funcionários do METRÔ, algo bonito de ser ver, em dias tão difíceis como os de hoje.
E quanto a mim, bem, apenas um consolo, depois de tamanho sufoco: Nunca fui de, como se diz... "parar o trânsito", mas uma coisa é certa: naquele dia descobri que sou "é de parar o METRÔ".
Talvez seja eu uma das "mais- mais" atrapalhadas que aqueles trilhos já viram...