Meu amigo crente em : Fé em Deus e pé na tábua
Precisava de dinheiro para fugir do Egito. Já estava entediada de cantar e a banda se flagelava por sucesso e por uma notinha no pergaminho semanal de Cultura e Variedades.
Aquilo não era para mim. Tinha uma alma livre e queria mesmo era sair por aí, conhecer lugares. O Egito era pequeno, além de ser sem graça, chato e não ter nada de especial. Eu queria desbravar o mundo. Tinha vinte e poucos anos e estava com todo o gás. Mas precisava de dinheiro. E lembrei de meu amigo crente...
Encontrei Sollom e seu tabuleiro de queijadinhas perto da casa de Enoc e Miriã, na avenida principal. Ele tinha que mudar de ponto várias vezes ao dia, pois Faraó ameaçou matá-lo se o pegasse em “atividade comercial”. As Casas de Pão de Queijo pertencentes à Faráo estavam abrindo falência por conta das queijadinhas de Sollom. Meu amigo crente, apesar de não ter nenhuma tática agressiva de vendas, tinha um faturamento mensal arrebatador que lhe rendeu noventa caprinos e uma pequena casa com dezesseis cômodos. Tudo isso graças às bênçãos do Senhor em sua vida, que também o livrava da inveja alheia e de uma lista de quarenta e nove comerciantes que desejavam sua morte, incluindo Faraó.
Quando o encontrei, vi Sollom abanando lentamente suas queijadinhas do assédio das abelhas. Disse que elas davam um gosto especial à iguaria, mas seu pouso não pegava bem. Deus o revelou em sonho esse mistério.
Fui direto ao assunto. Pedi o dinheiro. Ele ficou em silêncio por uns segundos. Depois me disse que eu não poderia fugir ao meu destino e que por onde eu fosse, passaria por tudo que deveria passar.
Que tapão.
Mas como eu tinha vinte e poucos anos e minhas orelhas estavam ensebadas de imaturidade, burrice e teimosia, não dei ouvidos. Preferia o caminho incerto da aventura do que a chibata diária e ritmada.
Sollom, como um bom amigo, disse que ia ver. Soube que à noite ele tinha ido ao monte e perguntado tudinho pra Deus.
Gelei.
Na bíblia não consta, mas o primeiro Sermão da Montanha, foi pra mim...