MINEIRIN... ESPERTIN , ESPERTIN...

A tarde já se ia dependurada no resquício de sol a se deitar por aquelas montanhas, quando finalmente terminou a estrada e eu cheguei àquela bela cidade.

Quis aproveitar até a última luminosidade, e mal coloquei os pés no parque , um "mineirin" veio ter comigo.

-Passeio de charrete, ô moça?

Eu ainda não conhecia o pedaço, mas aquele senhor simples, de fala mansa e tão atenciosa me partiu o coração.

-Para aonde?, perguntei.

-Pra "logo ali" moça, numa fazenda dum café, "o mió" desse mundo!

Ele acertara no alvo.Como justamente "eu" não toparia conhecer o melhor café do mundo?

Antes mesmo de aceitar já podia sentir aquele cheirinho delicioso espargido duma xícara de argila...pelos ares dos campos.

-Quanto custa, senhor?

-Pra dona faço trinta!

-Pode ser pra amanhã, às nove?

-Cumbinado dona ,às nove em ponto tô lá no hotel, nem um bucadinho mais.

Senti que ficou feliz, assim como eu.

Afinal, nesses tempos tão difíceis, garantir um trabalho é algo abençoado, para quem dá e para quem o recebe.

E como o "logo ali" dos mineiros não é o mesmo dos paulistanos, achei que o preço era justo.

Foi pensando assim que na manhã seguinte o vi chegar na hora combinada.

Montei na charrete como nos tempos de menina, e tratei de esconder as pernas de fora da bermuda com um cachecol ,porque o frio do vento era desproporcional ao que eu havia calculado.

Cincos minutos de trote...o que valia mais ou menos dois quarteirões, o charreteiro parou:

-Dona o peneu furô.Se importa de esperar um bucadinho?

Eu ainda não sabia o significado daquela palavra.

-Claro que não, vou fotografando esses suinãs do caminho, enquanto o senhor providencia o conserto...

E fotografei e fotogtafei...muitos bucadinhos. Uma hora mais ou menos...de fotografia.

-Pronto dona, já tá pronto, vamu em frente, sô!

E fomos...mais um quarteirão.

Pulei da charrete e ouvi um "é só comprar o ingresso e entrar , ô Dona!"

Pois bem, acessei a fazenda, que na verdade tinha um restaurante enorme, repleta de belos animais que não via há muito tempo.

E rodei e rodei, e fotografei, e respirei daquele ar puro,até degustar aquele cafezinho, no balcão da lanchonete, de fato, "o mió" do mundo. E computando tudo, decerto o café mais caro também.

Já no caminho de volta, aquele tão simples mas esperto senhor me sugeriu: "quer dar uma passadinha também lá nas montanhas aonde o sol se vai, Dona? é lindo de se ver!"

Antes que eu respondesse:"Só que o preço é outro, tá dona?"

Achei mais cauteloso parar por ali mesmo.

-Fica para a próxima, ok,senhor?

E assim lhe dei uma nota de cinquenta reais a esperar pelo meu troco de vinte.

-Farta dez , ô dona!

-Como assim, senhor, não era trinta o passeio?

-Trinta por hora, dona! Deu duas horas...

Contrargumentei.

-Tenho troco não, ô dona,a senhora é a primeira passageira do dia!

-O senhor pode ir trocar a nota, que eu espero mais um bucadinho, tem de quê não!

E esperei... esperei... esperei...zombando do meu coração, por ainda não bater suficientemente esperto...para esse mundo.

Na verdade o mundo é bem outro...e fica "logo aí, ó!".