LÁ PRAS BANDAS DAS MINAS GERAIS, UAI!

Chegamos à São Lourenço numa bela tarde ensolarada, depois de escaparmos duma encrenca danada, lá pelas bandas das serras do Itatiaia, quando resolvemos visitar o Agulhas Negras, em plena frente fria. Uma fria, de fato.

Mas aquela história será palco duma outra crônica...de humor.

Já havia visitado São Lourenço há quinze anos atrás, e a cidade mudou muito.

Cresceu, expandiu a hotelaria, modernizou o seu famoso "parque das águas" aonde se percebe uma administração diferente do que normalmente se vê pelo Brasil. O belíssimo parque atualmente é mantido pela Nestlé.

E lá notei um odor característico, que não havia percebido antes: é impossível não sentir aquele cheirinho exalado dos dejetos biológicos de tantos cavalos trotando pelas ruas.

Há charretes para todos os lados, oferecendo seus lindos passeios pelos derredores.

E sempre que eu me distraía pelas calçadas, a observar as belezas da cidade com o meu click fotográfico, sempre me lembrava que deveria desviar de alguns montinhos estrategicamente colocados à espera dos nossos distraídos pés.

"Poderia haver uma plaquinha daquelas: não pise na grama"-pensei.

Seria mais garantido.

Assim que adentrávamos o hotel, um refinado serviço de bar nos esperava para aquele cafézinho das Minas Gerais.

Afinal, é ali que encontramos os melhores grãos do mundo!

E foi assim que naquela tarde, depois do meu ensaio fotográfico pela cidade, parei naquele balcão, como de costume.

-Pois não senhora, aqui está seu cafézinho.

E ele me foi servido sob um cheirinho diferente que se misturava ao odor daquele café que nos fora recém preparado.

Até aí,tudo normal. O cheirinho às vezes vinha mesmo, lá de fora, quando algum cavalo resolvia sua urgência intestinal à frente da entrada do hotel.

-Servido senhor?

-Não, não obrigado, ele respondeu enfáticamente.

Estranhei. Para quem gosta tanto de café tive a impressão que o odor diferente o deixou meio enjoado.

-Você não acha que desta vez este cheiro... está forte demais?

De fato, estava.Aonde eu ia, o cheiro nos perseguia...

Foi quando resolvi olhar para os meus pés.

Deus! O pior havia acontecido.Carimbei uma das minhas sandálias de trilha, aquelas cujo solado de borracha é cheio de REENTRÂNCIAS, com aquele adubo natural "fresquin , fresquin", tão útil para os campos...

Nada mais ecológico, pensei.Ao menos é natural...de natureza.

A culpa não era minha. E nem do cavalo. Já sei, conclui aliviada-"a culpa é da prefeitura!"

-Quer um palitinho de dentes?-alguém ironicamente me perguntou.

Então, tratei de dar um jeito naquilo.Andar pelo granito do hotel...nem pensar!

Saí pela calçada a procura de ajuda.

Encontrei a dona Marta, uma simpática senhora que regava as flores do jardim da sua casa.

-Por favor, a senhora poderia me ajudar. Não sou daqui, estou numa urgência. E mostrei-lhe o ocorrido.

-Vixi santa, ora vamos dar um jeito nisso ,uai!

E com a mangueira, jogou um jato d'água na minha sandália, sobre suas pobres flores...

"Ao menos devia ser água mineral", pensei.

Nem preciso dizer que voou "natureza " para todos os lados!

-Muito obrigada, dona Marta.

- Há de quê, moça. Volte sempre...para um cafezinho, se quiser...

E com certeza, do jeito que aqueles cavalos desandavam, eu voltaria mesmo!

Mas acreditem, entrei pelo hall do hotel e nem olhei para o bar.

E não desisti de praguejar contra a prefeitura.

Afinal, do jeito que as coisas "andam e desandam" pelo Brasil, acho que não fui injusta não.