NINGUÉM MERECE!

A mulher entrou no ônibus logo na terceira parada depois de mim.

Era uma mulata bastante gorda e logo teve problemas em passar a roleta. Além disso carregava duas sacolas cheias, o que contribuiu para que ficasse entalada entre as ferragens.

O motorista e também trocador tentou ajudar e, na pressa de voltar à direção e evitar reclamações pela demora, espremeu mais ainda a tal senhora que acabou conseguindo ultrapassar a barreira, não sem antes emitir um sonoro e prolongado gás intestinal, cujo odor desagradável rapidamente espalhou-se pelo recinto.

Extremamente sem graça, a mulher rapidamente sentou-se no primeiro lugar vago que avistou, enquanto corria pelo veículo uma velada atmosfera de mal estar e comentários maldosos.

Logo atrás dela, um homem moreno e barbado, de aparência bastante largada, que também viajava naquele horário, manifestou-se imediatamente diante daquele clima constrangedor, tentando amenizar as coisas, porém, estando completamente bêbado como se pôde notar, só fez piorar tudo, impedindo o tão desejado esquecimento, ao dizer em alto e bom tom:

" - Minha senhora, não fique constrangida! O cheiro tá brabo, mas todas as pessoas neste mundo de Deus peidam!

O Papa peida! O presidente Lula peida! O Tony Ramos peida! A Xuxa peida! O motorista peida! Todos que estão aqui neste ônibus peidam e todos que já morreram pra esta vida também peidavam!

Por que a senhora não pode peidar também? Não ligue pra isso!

Talvez tenha sido aquela feijoada de ontem, quem sabe? O cheiro do peido varia conforme a comida que ingerimos e o seu parecia conseqüência disso, acertei?"

E por aí ele foi, citando pessoas, discorrendo sobre tipos de pratos e o conseqüente odor que podem causar nos gazes até não acabar mais, com sua voz trôpega e alta, arrancando risos de todos, colocando a mulher em evidência e a deixando cada vez mais encolhida e sem graça com seu discurso hilário e chamativo que parecia não ter fim!

A pobre mulher, desesperada para se livrar daquela situação inusitada, puxou o sinal e desceu logo no ponto seguinte, certamente bastante longe ainda do seu destino, mas continuar ali estava se tornando um sacrifício grande demais para ela agora.

Passou na roleta de saída apressada, dessa vez tomando maior cuidado com suas sacolas, enquanto ainda se ouvia o bêbado dizer lá de dentro:

" - Se peidar de novo, não se acanhe minha senhora!

Essas roletas espremem mesmo a barriga da gente e na verdade são ótimas pra esse tipo de coisa! Aliás, é bom pra saúde expelir gazes, sabia? Prender é pior! Eu me sinto aliviado quando solto peidos assim como o seu!"

Então, levantou-se e saiu atrás dela, falando alto e sem parar pela rua, cambaleando no seu rastro e se oferecendo para ajudar a levar suas sacolas, novamente chamando atenção de todos para a tal senhora que apenas queria se ver livre daquela situação esdrúxula e constrangedora!

Foi impossível conter o riso diante de tal cena trágico-cômica demais e depois e até mesmo agora ao contar não dá pra deixar de fazer isso só ao lembrar!

Como ela se livrou dele eu não sei contar, mas quer saber? O bêbado até que tinha razão!

De qualquer maneira ele ensinou alguma coisa a todos ali! No mínimo nenhum daqueles passageiros, especialmente os mais cheinhos, vai deixar de ter um cuidado maior ao passar em roletas de um modo geral, não acham? Vai que acontece uma fatalidade dessas? Quem vai se arriscar a encontrar um bêbado assim sentado lá dentro?

Ninguém merece!!!.......kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Cristale
Enviado por Cristale em 13/07/2009
Reeditado em 20/03/2013
Código do texto: T1697169
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.